Condenado no mensalão e beneficiado pela onda de anulações de processos da Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu não aparentava seus 79 anos, nem os quase três anos em que ficou preso, em sua festa de aniversário, na terça-feira à noite, em Brasília. Ante um painel ao maior estilo campanha eleitoral, posava sem preguiça para centenas de fotos com os convidados que iam chegando, de ministros e deputados a militantes e assessores com cargos menores no governo.
O evento serviou para Dirceu, de certa maneira, marcar sua reentrada na política, com direito a parabéns e ao refrão “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”, que o acompanha dos tempos de glória aos momentos mais críticos em que ficou na mira do STF e de Sergio Moro.
A festa do petista, em que cada um pagava sua comanda, aconteceu em um bar de Brasília. As filas para entrar e cumprimentá-lo se estendiam com uma espera de mais de meia hora.
Dez ministros participaram, de Fernando Haddad a Rui Costa. Hugo Motta esteve lá, assim como ex-governadores, líderes e ex-líderes do Congresso. Ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann participou remotamente, por uma chamada de vídeo feita logo cedo por seu namorado, Lindbergh Farias.
Entre os convidados, colegas que amargaram os tempos difíceis do PT, como Delúbio Soares e o também ex-tesoureiro Paulo Ferreira, que chegou a ser preso em 2016. Ferreira viajou de Porto Alegre a Brasília só para participar da festa.
Agora, Dirceu reunirá no fim de semana a turma dos petistas paulistas em torno de uma feijoada, para o segundo tempo do aniversário.
Festas de aniversário sempre foram usadas por políticos para alavancar campanhas eleitorais. No caso de Dirceu, elas funcionam também para testar a temperatura e ver se cabe ainda uma candidatura. No caso, a de deputado federal em 2026.
Mas o que a festa mostra, para além de planos eleitorais pessoais, é o discurso que deve influenciar o palanque e os bastidores do ano eleitoral. Entre os recados dados por Dirceu, o perigo do contexto internacional e do bolsonarismo resiliente, o cuidado com uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas e, enquanto se fala do provável afastamento do Centrão no ano que vem, reforçou a necessidade de união dos partidos de esquerda em torno de Lula.
O que mais agradou os ministros foi quando Dirceu disse que é preciso defender o governo Lula — uma deixa para silenciar os companheiros críticos que têm provocado ruído na imprensa e nas redes sociais.