A viagem de Lula a Nova York, onde participou da 80ª Assembleia-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), foi considerada exitosa por representantes do governo e um ponto de partida para novas perspectivas em relação a dois temas. Um deles é em relação aos Estados Unidos, depois que o presidente Donald Trump demonstrou interesse em se encontrar com Lula e falar de “química” entre os dois.

Em outra frente, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, divulgou por rede social ter convidado Lula para visitar o país. Ele disse ao petista estar pronto para um encontro com o presidente da Rússia, Vladmir Putin.

Foi um convite para que o presidente brasileiro se integre a uma “forte pressão internacional para desbloquear o caminho para o diálogo”, segundo o ucraniano, que tem Lula como um personagem estratégico na negociação, pois o brasileiro mantém proximidade com Putin. “Agradeço a disposição do Brasil em desempenhar um papel no processo de paz. Convidei o Presidente Lula da Silva a visitar a Ucrânia”, divulgou Zelensky.

Com base nesses dois acontecimentos, a diplomacia brasileira começa a traçar um novo plano de voo, com algumas premissas. No caso de Trump, a cautela é no sentido de manter a sobriedade que vem sendo a tônica até aqui para não submeter o presidente a um constrangimento.

Em relação a Zelensky, a ideia é avaliar até onde Lula deve ir para não melindrar a relação com Putin. Lula pretende compartilhar ao máximo as ações relacionadas a esse caso com os países que fazem parte do grupo Amigos da Paz, criado por iniciativa do Brasil e da China e que reúne 12 países do chamado Sul Global. É nessa perspectiva que o convite de Zelensky será avaliado, de acordo com fontes do Palácio do Planalto. 

Ainda na avaliação de um integrante do governo, a viagem serviu para Lula também resolver ruídos de comunicação que tinha com a Ucrânia desde o início do governo. O brasileiro ficou marcado por ter dito a frase “quando um não quer dois não brigam” ao ser questionado por jornalistas sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A frase questionava a condição de Zelensky como presidente do país que foi invadido, e Lula foi muito criticado por “culpar a vítima”, na avaliação de um membro do governo. Ao se colocar agora na frente do ucraniano, ouvindo e se apresentando como parte da articulação para o diálogo, o petista teria conseguido dirimir, de acordo com aliados, o argumento que nunca conseguiu explicar.