Com o Acordo União Europeia-Mercosul se aproximando da fase final de negociações, representantes dos setores de energia e infraestrutura debateram, em São Paulo, estratégias para fortalecer a cooperação bilateral na transição energética. Biocombustíveis, biometano, hidrogênio verde e investimentos em infraestrutura estiveram entre os principais temas do 1º Fórum de Investimentos UE-Brasil, realizado na última quinta-feira, 29, pela ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

O evento reuniu executivos da Vale, Fluxys, Stegra e Enel, sob mediação de Clarissa Lins, conselheira do Cebri e especialista em sustentabilidade. Ela abriu a discussão destacando o potencial brasileiro em rotas energéticas de baixo carbono, como os biocombustíveis, mas alertou para as lacunas estruturais e regulatórias que ainda dificultam o aproveitamento pleno desses recursos. Para Lins, a parceria com o bloco europeu pode ser estratégica para suprir essas deficiências.

O tema da transição energética ganha força em um novo contexto político. Durante o governo Jair Bolsonaro, a questão ambiental era um dos principais pontos de atrito nas tratativas com a UE. Sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, com uma postura mais aberta ao diálogo internacional e à agenda climática, os europeus têm mostrado maior disposição para avançar nas negociações.

Sérgio Cônsoli Fernandes, da Vale, ressaltou que a siderurgia brasileira continua sendo uma das maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa, devido ao uso intensivo de alto-fornos. Segundo ele, a pressão por competitividade pode ser uma alavanca para a adoção de tecnologias mais limpas. “O desafio é manter a competitividade em um ambiente que exige transição. Programas de incentivo na Europa ajudam empresas a se adaptarem, inclusive aquelas integradas globalmente à cadeia de suprimentos.”

Uma das apostas mais promissoras discutidas foi o hidrogênio verde. Embora tenha potencial para substituir combustíveis fósseis em setores intensivos em carbono, como o siderúrgico, ainda enfrenta barreiras tecnológicas e de custo. Luisa Orre, da sueca Stegra, apresentou o caso de um projeto no norte da Suécia que utiliza hidrogênio verde na produção de aço, mostrando que a transição é viável quando há energia renovável disponível e investimentos consistentes em inovação industrial.

Sébastien Lahouste, da Fluxys Brasil, destacou que a construção de uma matriz energética neutra em carbono exige investimentos de longo prazo em infraestrutura. Já Riccardo Pozzi, do Grupo Enel, reforçou que o avanço de projetos sustentáveis depende da estabilidade institucional e da cooperação entre setor público e privado. “É essencial termos um arcabouço regulatório que incentive os investimentos certos”, afirmou.

Pozzi também chamou atenção para o impacto da inteligência artificial no setor. “A revolução da IA traz novas exigências energéticas. Para acompanharmos essa transformação, é preciso entender o ambiente político e regulatório que molda o setor.”

Encerrando o painel, Clarissa Lins defendeu que o sucesso da transição energética até 2030 dependerá da coordenação entre atores públicos e privados, além de políticas públicas claras e eficazes. “Há múltiplas rotas possíveis, em diferentes estágios de maturidade. Mas uma condição comum a todas é a atuação ativa do Estado”, concluiu.