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Alcolumbre: um Davi sem Golias na disputa pelo Senado

Rei das emendas, ex-aliado de Bolsonaro e agora próximo a Lula, senador do Amapá e franco favorito pela cadeira de Rodrigo Pacheco. Governistas não veem alternativa viável e já preveem que custo para o governo será alto

Davi Alcolumbre
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Considerado o rei das emendas no Senado, Davi Alcolumbre é um nome de quase consenso na disputa pela presidência da casa, em fevereiro de 2025. Exceto se ocorrer uma grande reviravolta política, o senador deve voltar ao posto que ocupou entre 2019 e 2021.

O amapaense Alcolumbre já tem o apoio oficial de cinco partidos. Além de sua própria sigla, o União Brasil, PP, PSB, PDT, PL, PT, Republicanos e PSD estão na lista. O PT não anunciou a adesão oficialmente, mas o líder do partido no Senado, Beto Faro (PA), já adiantou que essa é a tendência no partido.

No total, com o virtual apoio do MDB, que também deverá entrar na coalizão pró-Alcolumbre, ele já soma os votos de 72 senadores – são necessários apenas 44 para vencer no primeiro turno.

O presidente Lula disse não ter candidato, mas nos bastidores atua na busca de um nome de “consenso”. Alcolumbre, que no governo passado tinha ótima relação com Jair Bolsonaro, foi rápido na transição e hoje é tido como um aliado fiel ao Planalto de Lula.

Diante de seu amplo favoritismo, Alcolumbre já começou até a definir como será a distribuição dos demais postos de comando no Senado nos próximos dois anos. A primeira vice-presidência deve ficar com o PL, a segunda vice com o PT e a Comissão de Constituição e Justiça, uma das mais importantes da casa, com o PSD.

Sem rivais
Candidaturas alternativas a Alcolumbre não tem prosperado. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) se lançou como candidata, apresentando-se como uma opção feminina na disputa, mas não conseguiu apoio nem de seu próprio partido. Falou-se também numa possível candidatura de Otto Alencar (PSD-BA), que chegou a ser vista com simpatia pelo Palácio do Planalto, mas a ideia também não foi adiante.

Alcolumbre tem como trunfo para voltar ao comando do Senado a sua ação como um dos coordenadores da distribuição de emendas. Muitos colegas de partidos diversos, de direita, centro e esquerda, lhe devem favores.

Seu estado, o Amapá, é um dos líderes no ranking de emendas. Prefeitos que são aliados do senador no estado receberam R$ 264 milhões, somente entre 2021 e 2022.

Há um fator que pode atrapalhar os planos do senador, e ele tem ver justamente com o domínio de Alcolumbre sobre a distribuição de emendas, hoje travada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal.

Como na eleição para a presidência da Câmara, há entre senadores a avaliação de que eventuais denúncias ou polêmicas na mídia sobre o uso inadequado de recursos de emendas possam causar desgastes e, assim, enfraquecer Alcolumbre na disputa. Isso geraria constrangimentos em muitos apoiadores. Por ora, porém, esse é um risco considerado baixo, até porque o problema já está exposto e não foi suficiente para deter a candidatura.

“Engolir” Alcolumbre
Um senador petista que falou ao PlatôBR sobre a disputa – e pediu para se manter no anonimato – disse que não havia unanimidade na bancada do partido em torno de Alcolumbre, mas concluiu que iria “prevalecer a inércia” nesse caso, com a eleição do senador do Amapá “praticamente consumada”.

Para esse mesmo senador, a maioria dos governistas teve de “engolir Alcolumbre”. Embora ele seja da base de Lula, o preço que o governo terá de pagar “será alto”, de acordo com o mesmo senador. É uma clara referência aos cargos e aos recursos que o governo terá que ceder para manter a boa relação. Hoje, Alcolumbre já é padrinho de ministros como Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Integração Nacional) -- este último, ex-governador de seu estado natal.

Para ele, Alcolumbre acumula muito poder hoje porque teria sido “terceirizado” para suas ações pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, que lhe dá apoio. De acordo com o parlamentar petista, Alcomlubre buscou apoios mais à direita, por duvidar de que grande parte dos senadores de centro e de esquerda lhe dariam o voto.

Oligarquia nortista
Davi Alcolumbre tem uma resposta na ponta da língua quando é perguntado sobre as relações político-empresariais de sua família no Amapá: diz que responde apenas por seu CPF. Um tio dele, Pierre, já disse que os Alcolumbre são um grupo familiar e não um grupo empresarial, com negócios anteriores até ao nascimento do político.

A ideia é se diferenciar de outras oligarquias regionais. Na prática, não é bem assim. O irmão de Alcolumbre, Josiel, é seu primeiro suplente. Ele preside o Conselho do Sebrae do Amapá e é sócio da TV Amazônia, retransmissora da Bandeirantes no estado. Josiel acumula duas derrotas recentes em eleições municipais na capital Macapá: não conseguiu se eleger prefeito em 2020, nem vereador em 2024. Na segunda disputa, foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal por suspeita de compra de votos.

A família materna do senador também controla outras emissoras de rádio e TV no Amapá. As Organizações José Alcolumbre são donas da TV Macapá, retransmissora do SBT. O tio que dá nome ao grupo chegou a ser preso em 2006, pela Operação Alecto, da Polícia Federal, que investigava corrupção, tráfico de influência e crimes contra a Fazenda Nacional.

Na eleição de 2014, quando Davi se elegeu senador pela primeira vez, ele e o primo Salomão Júnior estavam em lados opostos. O primo era suplente na chapa de Gilvam Borges, do PMDB, então aliado do ex-presidente José Sarney. O pai de Júnior foi suplente de Sarney em dois mandatos.

Apesar de estarem em lados opostos na eleição daquele ano, não havia rivalidade entre os primos. Davi era deputado federal e foi citado em reportagem do jornal O Estado de São Paulo por ter gastado boa parte da verba de combustíveis do Congresso Nacional no posto do primo.

Não foi a última vez que as denúncias de irregularidades na carreira do senador envolveram parentes. A Justiça Eleitoral investiga se ele usou, na campanha de 2022, quando foi reeleito, a aeronave de uma empresa que foi beneficiada por suas emendas parlamentares. Um dos documentos anexados na denúncia aponta o pouso da aeronave no Hangar Comandante Salomão Alcolumbre, aeródromo privado que fica nas terras de Isaac Alcolumbre, outro primo do parlamentar.

Ironicamente, o aeroporto público da cidade leva o nome de outro tio de Davi, Alberto Alcolumbre. O nome foi proposto pelo senador, que era deputado na época da apresentação do projeto.

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