Autor de filmes de forte impacto político, como “Bacurau” e “Aquarius”, o cineasta Kleber Mendonça Filho disse um não bem rotundo à anistia tentada pela bancada bolsonarista no Congresso. Para ele, seria a repetição de um erro do fim da ditadura, em 1979, quando acabou se instalando no país “uma espécie de cláusula de sacanagem”.

Disse o cineasta, que neste domingo concorre à Palma de Ouro, em Cannes, com “O agente secreto”:

“Então, você pode atuar contra o próprio país e, ao mesmo tempo, depois de tudo ser apagado e todo mundo meio que já era. Um pouco como naquele filme “Feitiço do tempo”, em que o filme está sempre recomeçando, sempre recomeçando a partir das 06h; e nada aconteceu ontem”.

Sobre a anistia de agora, Kleber Mendonça disse:

“Seria uma enorme decepção olhar para o país, para a nação, e entender que tudo aquilo que aconteceu seria simplesmente apagado. Como alguém apaga um quadro na escola?”, disse o cineasta, para quem a tentativa de golpe “foi um atentado contra a ideia de democracia, a ideia de nação, a ideia de respeito às instituições, que são falhas, que não são perfeitas, mas que existem e que a gente precisa respeitá-las”.