Sem espaço para cortar juros e sem, sequer, saber se será preciso elevar ainda mais a Selic, o Banco Central está preso ao mandato de atingir a inflação de 3% ao ano com as mãos parcialmente atadas. Os diretores que integram o Copom (Comitê de Política Monetária) tentam se equilibrar em um cenário que contempla, internamente, a indefinição da situação fiscal somada a uma inflação de serviços que reluta em ceder na velocidade esperada, mesmo com a taxa de juros no maior patamar das últimas duas décadas e expectativas desancoradas.

No front externo, as incertezas se acumulam com a tensão no Oriente Médio e com a política protecionista dos Estados Unidos. Em poucas semanas vencerá o prazo de tarifas reduzidas dado pelo presidente Donald Trump enquanto sua equipe busca fechar acordos comerciais com o resto do mundo.

Assim, o mundo poderá caminhar para um cenário de mais inflação e crescimento ou de desinflação e recessão. O futuro é incerto. De um lado, a conjuntura internacional pode ter um impacto inflacionário maior do que o esperado, com depreciação cambial potencializando os problemas domésticos que geram mais pressão nos preços. Do outro, uma desaceleração global mais pronunciada diante da guerra comercial ajudaria a conter os preços no Brasil, por exemplo, com redução de preços da commodities.

Se era para subir…
Mais preocupado com a cena política em 2026, o governo vê a decisão do Banco Central de elevar os juros nominais para 15% ao ano, anunciada na semana passada, com apreensão. Parte do entorno do presidente Lula acredita que o patamar atual foi além do necessário, mas há quem defenda que, se era para subir, melhor agora. Nesse caso, a expectativa é que o Copom comece a reduzir a taxa Selic, referência para economia, até o final do ano.

No entanto, a sinalização dada na ata da última reunião do comitê é que a análise do balanço de riscos permitiu, por enquanto, anunciar antecipadamente que a alta da semana passada foi a última do ciclo atual, mas a taxa “deve permanecer em patamar significativamente contracionista por um período bastante prolongado devido às expectativas desancoradas”.

Parte dessa desancoragem vem justamente da percepção de analistas de mercado de que o Banco Central não está comprometido em atingir o centro da meta de inflação, já que o IPCA, índice referência para o sistema brasileiro, segue pressionado, a inflação projetada para o futuro também persiste elevada, a política fiscal atua na direção oposta da política monetária e o clima político não garante espaço para o BC ir muito além com altas de juros.

Momento político
A ala política do governo está longe de ser favorável a juros altos, sobretudo, diante da baixa popularidade do presidente Lula nas últimas pesquisas de opinião. Aliados próximos do presidente, porém, têm se contido nas críticas públicas ao Banco Central. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, vem sendo poupado de ataques diretos. Segundo análises internas, o momento político entre governo e Congresso já está demasiadamente tenso para abrir um novo flanco de embate, que só fragilizaria mais a atual gestão.

Essa trégua, porém, está ancorada na certeza de que o BC fará a sua parte em 2026. Mas, até lá, ainda há muita coisa para acontecer. Integrantes da equipe econômica acreditam em um desfecho positivo para o embate fiscal com o Congresso. Apesar do clima pesado das últimas semanas, o time do ministro Fernando Haddad (Fazenda) entende que será possível encontrar um caminho com o Legislativo para fechar as contas de 2025 e 2026.

A política fiscal é apontada como um entrave para o Banco Central na condução da política monetária. O próprio Copom destaca que segue “acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”. Os diretores sabem que, em tese, podem subir ainda mais os juros. No entanto, eles não têm certeza de que o ganho de uma decisão nessa direção compensaria o custo para economia,  já que as expectativas dos agentes financeiros para o ano que vem resistem em ceder, apesar do choque de juros atual. O foco está na situação das contas públicas. Enquanto isso, a Selic mais alta eleva os gastos do governo com a rolagem da dívida.