A desistência do líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas (MA) (foto), de assumir a pasta das Comunicações fez o governo se deparar com um antigo problema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde que assumiu o seu terceiro mandato. Trata-se da dificuldade para obter fidelidade no Congresso de partidos que ocupam postos na Esplanada. Pedro Lucas queria ser ministro, havia se aproximado de Lula na viagem ao Japão, mas prevaleceu a pressão feita pelo grupo que trabalha pela candidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, para presidente em 2026. 

A recusa ocorreu como consequência da incontornável divisão do União Brasil entre governistas e oposicionistas. A ala anti-Lula da legenda não aceitou o plano traçado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), de levar o ex-ministro Juscelino Filho para a liderança da sigla na Câmara. Um impasse se formou no partido. Depois de um dia inteiro de reunião, com Alcolumbre empenhado em confirmar a indicação para o ministério, o desfecho apontou para a permanência de Lucas na liderança.

No fim, Alcolumbre ficou encarregado de indicar um novo nome para o governo. Segundo membros da sigla, até pessoas não filiadas ao União Brasil poderão ser levadas para Lula. Essa composição não é inédita: o ministro Waldez Góes (Integração e do Desenvolvimento Regional) é filiado do PDT, mas está na equipe de Lula na cota do presidente do Senado.

Nessas circunstâncias, o União Brasil permanece desobrigado a entregar todos os votos para o governo na Câmara e no Senado. Esse é o primeiro grande problema que a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) tem que enfrentar na boa relação que mantém com o Centrão desde que assumiu o cargo no Planalto. 

Nota desconsiderada
Já era noite nesta terça-feira, 22, quando a assessoria do partido pediu que a imprensa desconsiderasse a nota divulgada minutos antes, comunicando a recusa do líder em aceitar o ministério. Alcolumbre, principal fiador da indicação de Lucas para a pasta, nem apareceu para a sessão no plenário do Senado. Pelo telefone, delegou a tarefa de conduzir a ordem do dia ao seu vice, o senador Humberto Costa (PT-PE). Alegou que precisava resolver uma série de problemas.

O presidente do Senado participou de reuniões tensas com Rueda, Pedro Lucas, e com o ex-prefeito de Salvador Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), segundo vice-presidente da legenda e defensor da candidatura de Caiado ao Planalto no próximo ano.

Quando divulgou a nota em que recusou a pasta reservada para Pedro Lucas, o União Brasil não havia comunicado Lula ou o Planalto sobre a decisão. Esse foi o motivo da assessoria pedir que o texto fosse desconsiderado. Os dirigentes da sigla se deram conta da indelicadeza e tentaram consertar a derrapada. Mas o estrago na relação já estava feito.

Coube então ao próprio desistente a tarefa de comunicar a decisão. Fez isso pedindo perdão pelo constrangimento a que submeteu o Planalto por recusar um cargo oferecido pelo presidente da República. "Minhas mais sinceras desculpas ao presidente Lula por não poder atender a esse convite. Recebo seu gesto com gratidão e reafirmo minha disposição para o diálogo institucional, sempre em favor do Brasil", afirmou o líder do União Brasil, em outra nota divulgada à imprensa.

Visão do Planalto
A desistência de Lucas foi tratada pelo Palácio do Planalto como uma "grande trapalhada" do partido e um gesto de desrespeito em relação ao governo. De acordo com fontes palacianas, a situação criada pelo União Brasil abre caminho para que o governo reveja a posição de manter o partido no Ministério das Comunicações. Uma possibilidade seria acomodar o PSD da Câmara, que reclama por não ter representante no primeiro escalão.

A negociação para a chegada de Lucas na pasta foi feita a partir de uma indicação do próprio partido. Até uma data  foi negociada para a posse do novo ministro. Só depois disso é a divisão do União Brasil criou obstáculos para a nomeação de Pedro Lucas para o lugar de Juscelino, que saiu do cargo após ser denunciado pela PGR (Procuradoria Geral da República) por crime de desvio de recursos de emendas parlamentares. "Se eles não conseguem se unir, o governo pode reavaliar se vale a pena manter a legenda nos ministérios", disse uma fonte do Planalto ao PlatôBR.