A ordem de prisão assinada por Alexandre de Moraes contra o deputado federal Alexandre Ramagem, nesta sexta-feira, 21, depende de fatores alheios à caneta de Moraes para ser cumprida. A prisão foi ordenada após o PlatôBR localizar Ramagem em um condomínio de luxo em Miami, na quarta-feira, 19.
A decisão de Moraes segue em sigilo no STF, mas, em casos como este, a praxe é que o Supremo determine a inclusão do nome do investigado na difusão vermelha da Interpol, lista de pessoas procuradas internacionalmente. Uma vez que a solicitação seja atendida e o alvo localizado e preso, o passo seguinte são tratativas entre o governo brasileiro e autoridades estrangeiras por uma extradição.
A inclusão de nomes de alvos na lista da Interpol, no entanto, não é automática nem garantida. A corporação pode pedir mais informações e, ao final, negar-se a inserir o nome de um suspeito em sua difusão vermelha.
Esse desfecho já ocorreu em relação a outro bolsonarista que vive nos Estados Unidos: o blogueiro Allan dos Santos, alvo de um mandado de prisão de Moraes desde 2021. A Interpol solicitou ao STF mais informações sobre os crimes atribuídos a Santos e, diante do que considerou falta de provas sobre lavagem de dinheiro, decidiu não incluí-lo na difusão vermelha. O blogueiro segue livre em território americano.
Mais recentemente, por outro lado, a Interpol atendeu ao pedido brasileiro pela inclusão da deputada Carla Zambelli na lista de fugitivos internacional. Condenada pelo STF por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Zambelli fugiu para a Itália e acabou sendo encontrada e presa nos arredores de Roma, em julho. O governo brasileiro pediu a extradição dela à Itália e o processo está em tramitação.
Assim como a colega bolsonarista, e ao contrário de Allan dos Santos, Alexandre Ramagem foi condenado pelo STF. O deputado do PL foi sentenciado a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão no julgamento da tentativa de golpe.
Por estar nos Estados Unidos, contudo, Ramagem tem como trunfo as sanções aplicadas pelo governo americano a Alexandre de Moraes. O ministro foi enquadrado pelo governo Donald Trump na Lei Magnitsky, que impõe sanções econômicas a alvos considerados violadores de direitos humanos. Por essa razão, no caso de Ramagem, um eventual pedido de extradição, após uma possível prisão dele, muito provavelmente enfrentaria consideráveis obstáculos políticos.
Condomínio de luxo
O PlatôBR localizou Alexandre Ramagem em um condomínio de luxo em North Miami, para onde foi com a família.
O complexo onde Ramagem está, o Solé Mia, tem acesso direto para uma piscina artificial do tamanho de dois campos de futebol. Cercada por areia e palmeiras, a “laguna” é preenchida com água cristalina, imitando uma praia caribenha, com oferta de atividades náuticas, como caiaque e stand up paddle. Há, ainda, várias quadras esportivas, playground, áreas para piquenique, estúdio de ioga, pista de cooper, trilhas para caminhadas e spa.
O complexo é formado por dois prédios de 17 andares, com varandas amplas, construídas em linhas curvas sobre a fachada e vista livre para a costa. O aluguel de um apartamento simples no local custa, em média, R$ 2 mil a diária.
O ponto escolhido pelo deputado federal é um bairro recente, em expansão, com novos empreendimentos sendo erguidos ano a ano. Os moradores da região são, em sua maioria, famílias ricas da América Latina, inclusive muitos brasileiros. Num clube anexo ao Solé Mia, os moradores costumam se reunir para papear, beber e jogar padel, uma mistura de beach tênis e squash.
