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Atentado é reflexo da radicalização, que persiste, alertam autoridades

Ato extremo de homem que morreu na Praça dos Três Poderes reacende temor com ações contra as instituições, dá força às investigações que miram Jair Bolsonaro e sepulta, ao menos por ora, debate sobre anistia

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Embora as explosões na Praça dos Três Poderes, algumas em frente ao STF, tenham sido consideradas por alguns um ato isolado, a ação do ex-candidato a vereador do PL em Santa Catarina Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiü França, é reflexo de um fenômeno da radicalização que ainda persiste no país e um risco para a democracia, alertaram autoridades e políticos. Por isso, ações de ativistas políticos radicais como o o homem-bomba de Brasília, que andou pela Esplanada dos Ministérios e pela Praça dos Três Poderes com explosivos no corpo e horas antes circulou pela Câmara dos Deputados, precisam ser investigadas e monitoradas, enfatizaram as mesmas autoridades.

Tiü França jogou duas bombas em frente ao STF e lançou outras contra o próprio corpo, morrendo no local. Ele chegou a entrar no prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 24 de agosto. Já era famoso por publicar ameaças contra os ministros do STF, políticos e outras figuras públicas nas redes sociais. O autor do atentado contou à sua ex-mulher, identificada como Daiane (ouvida informalmente pela Polícia Federal), que iria matar Alexandre de Moraes e “quem mais estivesse junto na hora do atentado”.

Para Moraes, o ato de Tiü França não deve ser visto como fato isolado. O ministro do STF disse que as explosões em Brasília tiveram origem no chamado “Gabinete do Ódio”, criado na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Não podemos ignorar o que ocorreu. O que aconteceu ontem não é um fato isolado do contexto. O contexto se iniciou lá atrás, quando o Gabinete do Ódio começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o STF, principalmente, e contra a autonomia do Judiciário”, disse o ministro ao participar de evento no Conselho Nacional do Ministério Público.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, rejeitou a expressão “lobo solitário”, usada para definir Tiü França, porque ativistas como ele “têm acesso a pessoas que alimentam o ódio” e “a pessoas que fabricam bombas”. Rodrigues vê ligações entre o ato e os participantes da tentativa de golpe no 8 de janeiro. “Particularmente eu tenho algumas ressalvas dessa expressão ‘lobo solitário’. Ainda que a ação visível seja individual, por trás dessa ação nunca há só uma pessoa. É sempre um grupo ou ideias de um grupo. Ou extremismos e radicalismos”, afirmou.

‘Efeito Trump’
Logo após o atentado, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que estava em Montevidéu, em uma reunião de ministros da Justiça do Mercosul, conversou com o presidente Lula e o diretor-geral da PF. Em conversas reservadas, houve uma avaliação de que o atentado já possa ser resultado do “efeito Trump”, a vitória do presidente Donald Trump, na eleição nos Estados Unidos, que estaria fortalecendo ações de grupos de direita e extrema direita no país, identificados com o republicano.

Na Polícia Federal, há uma avaliação também de que o atentado na Praça dos Três Poderes “fortalece” o resultado das investigações do inquérito sobre o golpe do 8 de janeiro, que será encerrado na próxima semana. O ministro Lewandowski, em nota, afirmou que as forças federais de segurança “estão preparadas para assegurar o pleno funcionamento dos poderes constituídos”. De acordo com ele, a PF “está trabalhando com rigor para elucidar, com celeridade, a motivação das explosões na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal, e nos arredores do Congresso Nacional”.

‘Não existe pacificação com anistia’
Entre políticos e autoridades, há quase um consenso de que a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro se torna agora uma medida quase impossível depois do atentado na praça dos Três Poderes. “(O atentado) é uma demonstração de que só é possível essa necessária pacificação do país com a responsabilização de todos os criminosos. Não existe a possibilidade de pacificação com anistia a criminosos”, disse Alexandre de Moraes, que também ficará encarregado da investigação sobre o atentado desta quarta.

“O criminoso anistiado é o criminoso impune. E a impunidade vai gerar mais agressividade, como gerou ontem (na quarta, 13). As pessoas acham que podem vir até Brasília e tentar entrar no STF para explodir o STF porque foram instigadas por muitas pessoas, lamentavelmente várias com altos cargos na República”, afirmou Moraes, referindo-se, sem citar nomes, ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o investigado principal dos inquéritos que miram os atos antidemocráticos.

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