Áudios apreendidos pela Polícia Federal mostram Jair Bolsonaro e Silas Malafaia discutindo discurso e estratégias após o tarifaço anunciado por Donald Trump contra o Brasil.
Em 13 de julho, quatro dias depois do anúncio das sanções de Trump, Malafaia enviou um áudio a Bolsonaro no qual defendeu que o ex-presidente assumisse protagonismo e defendesse que a solução para as tarifas seria uma anistia. “Esse tem que ser o nosso discurso! Centrar fogo que se tiver a anistia o problema da tarifa estará resolvido. Tira de Lula a evidência e pressiona o STF”.
Bolsonaro, no entanto, se mostrava reticente. O ex-presidente afirmou que vinha conversando com “pessoas mais acertadas” sobre a anistia como condição para o fim das sanções, mas que não poderia se expor porque isso não resolveria nada.
“Agora, eu não posso também expor, como você quer que eu me exponha, que daí não resolve nada. Se eu der uma de machão agora ‘atenção, só se for assim, só se for assado’, não resolve nada. Eu tenho meus contatos, não falo com ninguém e tô fazendo aquilo que eu entendo, você também tem razão, é a anistia. Resolveu a anistia? Resolveu tudo. Não resolveu? Já era. Ele [Trump] não perde nenhuma. Tenha certeza disso”, respondeu.
Malafaia, então, disse discordar de Bolsonaro e voltou a orientá-lo a divulgar um posicionamento público, mesmo que não fosse para “esculhambar” o STF. A narrativa do ex-presidente, na avaliação do pastor, deveria ser a de que ninguém gostaria de ver ministros da Corte e seus familiares sancionados pelo governo Trump. Por isso, a anistia seria o caminho para encerrar o tarifaço e impedir essa escalada na crise — que acabou se concretizando com a aplicação da Lei Magnitsky sobre Alexandre de Moraes.
Disse Malafaia no áudio:
“Me desculpa, discordo de você. Que história é essa? Quem é que pode falar isso, rapaz? Quem é que é mais apropriado com inteligência? Saber se colocar? Uma coisa é bravata. ‘É, Alexandre vai pra cadeia mesmo, tem que arrebentar’. Aí é bobagem. Você como um estadista, você tem que dizer (…) ‘a questão não é econômica, a questão é liberdade e injustiça contra essas pessoas presas. Essa injustiça contra mim. Esse golpe que não existiu’. Aí ó, esse é teu discurso, presidente”.
Pouco depois, Bolsonaro enviou a Malafaia uma carta, que acabaria divulgando naquele mesmo dia 13 de julho. No texto, ele afirmou que “não me alegra ver sanções pessoais, ou familiares, a quem quer que seja. Não me alegra ver nossos produtores do campo ou da cidade, bem como o povo, sofrer com essa tarifa de 50%”. A carta também disse que “a solução está nas mãos das autoridades brasileiras. Em havendo harmonia e independência entre os Poderes nasce o perdão entre irmãos e, com a anistia também a paz para a economia.
Malafaia respondeu que a carta estava “muito boa”, mas sugeriu que Bolsonaro gravasse um vídeo com o conteúdo. O ex-presidente, contudo, seguiu com o plano inicial e publicou o texto em suas redes sociais.
Na mensagem enviada a Malafaia, havia um trecho que acabou sendo suprimido da carta divulgada por Bolsonaro. Esse item afirmava que “a solução passa por justiça aos presos pelo 08 de janeiro, passa pela anistia, que é algo privativo do Congresso e não de qualquer outro Poder”.
Ouça abaixo os áudios: