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Avanço antidemocrático na Turquia influencia recuo do mercado no país

Após prisão de Ekrem İmamoglu, prefeito de Istambul e principal opositor de Erdogan, mercado reagiu com queda da bolsa da Turquia e recuo em índice de investidores

Foto: Divulgação/Governo da Turquia
Foto: Divulgação/Governo da Turquia

A prisão do prefeito de Istambul, Ekrem İmamoglu, na quarta-feira, 19, a poucos dias de se tornar o principal opositor a Recep Tayyip Erdogan na disputa pela presidência da Turquia, teve desdobramentos imediatos no mercado. A Bolsa de Istambul recuou 6%, enquanto foi de 8% o tombo do índice MSCI — sigla para Morgan Stanley Capital International, principal referência para investidores globais.

À coluna, especialistas em economia internacional avaliaram a relação entre o clima antidemocrático da Turquia e as reações do mercado.

Sandra Utsumi, diretora-executiva do banco chinês Haitong Bank na Europa, analisou os dados do mercado na Turquia desde a prisão de İmamoglu. “O banco da Turquia fez operações cambiais para segurar a lira turca que, ainda assim, deslizou 3,3% na quarta-feira. O Banco Central não confirmou, mas foram vendidos aproximadamente US$ 8 bilhões no dia do anúncio da prisão”, explicou.

Para Igor Lucena, economista e PhD em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, as baixas se deram devido a uma queda da confiança dos investidores na Turquia como um país seguro para se investir, em meio ao avanço do regime autoritário de Erdogan.

Disse o economista:

“Vamos ver continuar uma política econômica heterodoxa, que não consegue resolver o problema. A Turquia avança em um movimento autoritário, que afasta investidores e ainda tem um grande risco inflacionário, com uma das taxas de juros mais altas do mundo”.

Embora a Turquia seja parte da OTAN e, portanto, peça importante para a manutenção da paz na região e na Europa, Lucena avalia que alguns desejos de Erdogan nunca se realizarão — a exemplo de uma entrada do seu país na União Europeia. “Enquanto não tiver uma democracia de fato na Turquia, isso não irá acontecer”, disse.

Duas décadas de poder

Do mesmo clube de Donald Trump e outros da internacional populista de extrema direita, Erdogan iniciou sua influência política nacional em 1994, quando se tornou prefeito de Istambul em meio aos movimentos islâmicos emergentes da época. Foi condenado e preso por incitação do ódio religioso. Fundador do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) em 2003, Erdogan é líder da legenda conservadora até hoje.

Ele foi primeiro-ministro da Turquia por onze anos e se tornou o primeiro presidente eleito por voto direto, em agosto de 2014. Dois anos depois, acusou o líder islâmico Fethullah Gulen de uma tentativa de golpe, negada por Gulen. O presidente turco reagiu com violência: vários de seus apoiadores morreram em protestos e parte da mídia foi posta sob influência do governo, o que criou um clima de medo a todos que se opusessem a Erdogan.

Em 2017, Erdogan promoveu um referendo que instituiu o presidencialismo na Turquia e extinguiu o cargo de primeiro-ministro — função relativa ao chefe de governo em regimes parlamentaristas e semipresidencialistas. Essa articulação o permitiu concentrar mais poder como chefe de governo e ter permissão legal para disputar mais duas vezes a eleição para presidente.

Ele foi reeleito presidente em 2019, com 52,59% dos votos, e novamente em 2023, com 52,1% dos votos. Assim, seja como primeiro-ministro ou presidente, o conservador comanda a Turquia há mais de duas décadas.

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