Na iminência de que o STF (Supremo Tribunal Federal) mande para a prisão, em regime fechado, seu maior expoente, o grupo político ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro busca estratégias de sobrevivência que incluem o lançamento de novos nomes e mudanças de domicílios eleitorais. O plano é do próprio ex-presidente, que cumpre prisão domiciliar depois de condenado a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Bolsonaro se orienta por trackings semanais (pesquisas que medem o posicionamento do eleitor quase sempre feitas por telefone) para definir o tabuleiro político nos estados e vagas pretendidas por sua família. A prioridade do grupo é alcançar o máximo de cargos no Senado, com previsão de eleger 44 parlamentares. Mas essa busca tem gerado conflitos entre membros da família, políticos do PL, nomes que se elegeram na onda bolsonarista e políticos tradicionais da direita que trafegam na mesma faixa política.

O caso de Santa Catarina é um dos mais conflituosos. Há um verdadeiro congestionamento de candidaturas ao Senado com a imposição do ex-presidente de que Carlos (PL), o filho vereador no Rio de Janeiro, seja um dos nomes na chapa. A intenção de Carlos é mudar seu domicílio eleitoral para o estado do Sul, porque seu irmão Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disputará a reeleição como senador pelo Rio de Janeiro.

O deslocamento, porém, joga por terra o projeto da deputada Caroline De Toni (PL-SC) de também se eleger ao Senado. Justo ela que abriu mão do cargo de líder da minoria na Câmara para tentar ajudar o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), que está nos Estados Unidos, a não perder o mandato por faltar às sessões. Alijada da futura chapa, De Toni conversa com o Novo para trilhar seu caminho ao Senado, já que o governador do estado, Jorginho Mello (PL), que tentará a reeleição, optou pela composição com Carlos e com o senador Esperidião Amin (PP-SC).

“Sangue do sangue”
Porta-voz das decisões do pai, Flávio tentou nesta sexta-feira, 7, aplacar as resistências a Carlos em Santa Catarina. Em vídeo postado nas redes sociais, o senador lembrou que Bolsonaro emprestou seu prestígio para eleger políticos em todo país no campo da direita e que agora precisa do retorno desses políticos. Ao justificar a escolha de Carlos para a chapa, disse que o irmão é “sangue do sangue” de Jair Bolsonaro, que é um “escolhido de Deus” para enfrentar o perigo do projeto da esquerda. “Não só ele [Jair Bolsonaro] merece, como o Carlos também merece a confiança dos catarinenses. Porque ele [Carlos] foi um soldado leal e estratégico no nosso exército”, disse.

Flávio reclamou da deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC), que tenta manter a chapa com os políticos locais e foi chamada de “mentirosa” por Carlos por dizer que De Toni deixaria o PL para se candidatar por outro partido. “O PP vai manter a candidatura do Amin como sempre foi. A vaga do nosso PL era da deputada Carol, agora será dada ao Carlos”, prosseguiu, pedindo uma trégua entre o irmão e a deputada. 

Minas Gerais
Nos últimos meses, houve distanciamento entre a família do ex-presidente e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal mais votado do país em 2022 e um dos principais líderes da direita em Minas Gerais. Desde julho, Eduardo Bolsonaro manifesta nas redes descontentamento com o parlamentar mineiro, por considerar que ele demonstrou pouco empenho na defesa de Jair Bolsonaro durante o processo que o condenou pela ação golpista.

Na última sexta-feira, 7, a insatisfação com Nikolas foi mais uma vez exposta pelo filho do ex-presidente. Eduardo compartilhou nas redes uma postagem que explicitou o desagrado com o deputado mineiro: “Ele está liderando uma dissidência e vários políticos mais jovens estão com ele. O problema? O de sempre: ‘temos que nos descolar do Bozo sem perder o eleitor'”.

A mensagem divulgada por Eduardo mostra uma divisão importante no campo da direita, antes unida em torno de Jair Bolsonaro. Com 29 anos, evangélico, Nikolas é um dos mais políticos mais populares nas redes sociais, com significativa influência no eleitorado conservador, principalmente na juventude. Esse racha tem potencial para enfraquecer o peso político da família Bolsonaro. 

São Paulo
Um dos lugares ainda indefinidos pelo bolsonarismo é São Paulo. Tudo depende dos planos de Eduardo Bolsonaro, que não desistiu de se candidatar à Presidência da República.

Há nomes que são considerados favoritos à segunda vaga no Senado, caso Eduardo queira disputar uma delas. Um dos pretendentes é o secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite (PL), que tem planos de sair nos próximos dias do governo e assumir sua vaga na Câmara dos Deputados para relatar o projeto que equipara as facções criminosas a organizações terroristas. “Eduardo quer muito ser presidente e está trabalhando muito para viabilizar isso, mas tem chances de ele ser também um candidato ao Senado”, disse um interlocutor assíduo do bolsonarismo. 

Rio de Janeiro
A relatoria na Câmara é uma tentativa de Derrite de se tornar mais relevante no cenário nacional e foi entregue a ele na esteira da operação realizada no Rio de Janeiro, nos complexos de favelas da Penha e do Alemão, que terminou com 121 mortos. A incursão violenta devolveu à direita discurso e capacidade de mobilização depois que pauta da anistia a Bolsonaro e aos condenados pelos atos do 8 de Janeiro perdeu força.

Com a operação, o governador Claudio Castro se firmou como o nome para disputar a segunda vaga ao Senado, já que a primeira está garantida para Flávio Bolsonaro. O nome mais cotado pelo grupo para encabeçar essa chapa é o do secretário de governo de Castro, Rodrigo Bacellar (União Brasil). O grupo também aposta em nomes como o do secretário de Segurança do estado, Victor Cesar Carvalho dos Santos, que passou a figurar como um possível candidato à Câmara. Tudo dependerá, de acordo com interlocutores, da capacidade, ao longo do tempo, de mobilização por meio da pauta de segurança.

Outros políticos que contam com a simpatia da família Bolsonaro para a candidatura ao governo são o empresário e ex-deputado federal Washington Reis (MDB) e o atual senador Carlos Portinho (PL).