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Bons advogados não salvam Bolsonaro de se tornar réu

‘Os advogados não têm o poder de reescrever a história’, diz jurista

Fotos: Gustavo Moreno/STF
Fotos: Gustavo Moreno/STF

Mesmo com grandes advogados, Bolsonaro e os sete acusados por tentativa de golpe de Estado caminham para se tornar réus nesta quarta-feira, 26, pela Primeira Turma do STF. “Não há o que se fazer a respeito do que ocorreu no 8 de Janeiro. Eles ainda não têm o poder de reescrever a história”, afirmou à coluna o advogado Marco Aurélio de Carvalho, do grupo de direito Prerrogativas.

Ele destacou a defesa técnica feita por Celso Villardi, advogado de Bolsonaro, e José Luiz de Oliveira Lima, defensor do general Braga Netto. “São advogados excepcionais, mas abraçaram uma missão verdadeiramente impossível”, afirmou o advogado, apontando que, nesta quarta-feira deve ocorrer o esperado: Bolsonaro e os demais réus, entre eles o delator Mauro Cid e Braga Netto devem se tornar réus.

O STF negou os pedidos dos defensores de que o caso fosse julgado pelo plenário e que a delação de Cid fosse afastada. Assim, o julgamento prossegue na Primeira Turma. “A delação de Mauro Cid é absolutamente irrelevante. A denúncia de Paulo Gonet é muito sólida, fundamentada em outros fatos, que foram devidamente comprovados. A delação é meramente lateral, não tem a importância que foi atribuída a ela”, analisou Carvalho.

Esta semana, em uma live, Bolsonaro perguntou onde estava o Prerrogativas para garantir seu direito de defesa e afirmou que o grupo só se preocupa em defender a esquerda.

Marco Aurélio de Carvalho ressaltou que o julgamento, que teve início nesta terça-feira, garantiu o direito de ampla defesa dos acusados. “Não há qualquer tipo de cerceamento e a integridade do feito, portanto, está sendo mantida, o que é determinante para a legitimidade de qualquer resultado.”

Livre-docente da Faculdade de Direito da USP, Pierpaolo Bottini lembrou que este é apenas o início de um processo que deve ser julgado apenas no segundo semestre, levando um prazo de ao menos sete meses. O professor explicou que, tão logo a denúncia seja aceita, o que deve ocorrer na sessão desta quarta, começa o processo de instrução, em que todos os réus terão direito a apresentar uma série de testemunhas e que todo o processo será amplamente coberto pela imprensa e divulgado.

Bottini rebateu as afirmações do clã Bolsonaro de que o julgamento se trata de uma encenação e que as condenações estão garantidas. “Não, eu acho que não. Eu acho que a gente tem um longo caminho até a condenação. Todos os argumentos e fatos apresentados pela defesa vão ser expostos ao público, vão ser apresentados ao Supremo, e eu acho que tudo isso vai ser sopesado no momento de inocentar ou condenar os acusados”, afirmou.

“Porque são vários os crimes ali e certamente vai haver uma discussão sobre isso, então não me parece um jogo tão de cartas marcadas como se apresenta”, disse Bottini.

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