O governo brasileiro esperou que Israel e o Hamas se manifestassem sobre o acordo de paz anunciado pelo presidente do Estados Unidos, Donald Trump, na noite de quarta-feira, 8, para se posicionar. Em nota divulgada pelo MRE (Ministério de Relações Exteriores) na tarde desta quinta-feira, 9, o Brasil defendeu a paz e apontou que a estabilidade da região depende da criação de um Estado Palestino, incluindo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital.

“O Brasil reafirma a convicção de que uma paz justa, estável e duradoura no Oriente Médio passa pela implementação da solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável, vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, incluindo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital”, diz a nota divulgada pelo Itamaraty.

Entre 5 e 10 de junho de 1967, Israel derrotou o Egito, a Jordânia e a Síria na Guerra Árabe-Israelense, ocupando a Península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã. O rápido conflito também ficou conhecido como a Guerra dos Seis Dias e foi determinante para a grande mudança nas fronteiras de Israel e a consequente diminuição do território palestino.

Em meio a um processo de aproximação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Trump, desde o final de setembro, quando os dois se encontraram na 80ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas, a nota reconhece o esforço do presidente americano na construção desse diálogo, que contou com a mediação também do Catar, do Egito e da Turquia.

Sem Riviera 
Embora haja a preocupação em passar um tom positivo em relação ao acordo, o posicionamento brasileiro indica o respeito aos limites territoriais que, antes da deflagração do conflito, foram violados por Israel. Além disso, vale lembrar que Trump, no início de seu mandato, chegou a divulgar um vídeo gerado por inteligência artificial que mostra uma transformação da Faixa de Gaza em um complexo de resorts que ele inclusive já havia denominado de “Riviera do Oriente Médio”.

O vídeo tinha como legenda “Gaza 2025” e exibia uma estátua gigante de Trump em ouro no meio de uma rua, o premiê israelense Benjamin Netanyahu tomando drinque em uma piscina e o empresário Elon Musk distribuindo dólares a crianças em uma praia.

O vídeo era embalado por uma trilha sonora com a frase “Trump vai te libertar” e simulava uma paisagem na atual zona de conflito, com prédios altos, praias cheias de cadeiras e tendas, iates ancorados, pessoas celebrando nas ruas.

Acordo
Nesta quinta, Israel anunciou que todas as partes assinaram a versão final da primeira fase do acordo. O entendimento, firmado na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, foi elaborado a partir de um plano de 20 pontos proposto por Trump e prevê a libertação dos reféns israelenses ainda vivos em troca da soltura de cerca de 2 mil prisioneiros palestinos. Netanyahu classificou o acordo como “um grande dia para Israel” e disse que Trump “merece o Prêmio Nobel da Paz”. O cessar-fogo deve entrar em vigor até 24 horas após a aprovação do acordo pelo gabinete do primeiro-ministro que está reunido nesse momento.

Leia a íntegra da nota divulgada pelo Itamaraty:

O governo brasileiro saúda o anúncio de acordo entre Israel e o Hamas para novo cessar-fogo na Faixa de Gaza, no Estado da Palestina, por meio da implementação da primeira fase de plano para pôr fim ao conflito, transcorridos dois anos de seu início. Reconhece, nesse contexto, o importante papel desempenhado pelos Estados Unidos e valoriza a atuação dos demais países mediadores: Catar, Egito e Turquia. 

O acordo, caso venha a ser efetivamente implementado, deverá interromper os ataques israelenses contra Gaza, os quais provocaram mais de 67 mil mortes – com grande número de mulheres e crianças entre as vítimas -, o deslocamento forçado de quase dois milhões de moradores e devastação sem precedentes, com a destruição de grande parte da infraestrutura civil do território. Deverá, ademais, garantir a libertação de todos os reféns remanescentes, em troca de prisioneiros palestinos, a entrada desimpedida de ajuda humanitária, e a retirada das tropas israelenses até linha acordada entre as partes, além de criar as condições para a imediata reconstrução de Gaza, com apoio da comunidade internacional.

O governo brasileiro ressalta a dimensão humanitária do acordo e enfatiza que o cessar-fogo deverá resultar em alívio efetivo para a população civil. Reitera a necessidade de assegurar acesso pleno, imediato, seguro e desimpedido da assistência humanitária e das equipes das Nações Unidas que atuam no terreno.

O Brasil exorta as partes a cumprirem todos os termos do acordo e a engajarem-se de boa-fé em negociações para assegurar a efetivação da retirada completa das forças israelenses de Gaza, o início do urgente processo de reconstrução da Faixa, sob coordenação e supervisão palestina, e a restauração da unidade político-geográfica da Palestina sob seu legítimo governo, em consonância com o direito inalienável de autodeterminação do povo palestino.

O Brasil reafirma a convicção de que uma paz justa, estável e duradoura no Oriente Médio passa pela implementação da solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável, vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, incluindo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital.