A Câmara deu o primeiro passo para a criação da bancada cristã: aprovou o regime de urgência por 398 votos a 30, abrindo caminho para que católicos e evangélicos possam ganhar assento no colégio de líderes e espaço para discursos em plenário.

A proposta é de autoria dos deputados Gilberto Nascimento (PSD‑SP) e Luiz Gastão (PSD‑CE) e tem como relator Diego Garcia (Republicanos-PR). A votação final ainda não aconteceu, mas a iniciativa já movimenta os debates sobre a presença de grupos religiosos no Congresso.

Segundo os autores, a ideia é garantir representação formal a parlamentares que professam a fé cristã, reunindo católicos e evangélicos sob uma coordenação comum, com direito a voz e voto no colégio de líderes e espaço de fala semanal em plenário. O objetivo, segundo Nascimento e Gastão, é que os parlamentares possam acompanhar e influenciar propostas de interesse da comunidade cristã de forma “estruturada e transparente”.

O deputado Gilberto Nascimento afirmou que o relatório deve ser votado já na próxima semana. “Com isso, já vamos pedir para ir ao plenário”, disse. Segundo ele, o texto não traz impacto financeiro. “O pessoal tinha dúvidas sobre nossa proposta, mas não terá despesas para a Câmara, não terá criação de novos cargos”, acrescentou o parlamentar em conversa com o PlatôBR. Indagado se seria necessário abrir espaço físico nos prédios da Câmara, Nascimento explicou que a bancada irá utilizar salas já existentes, ligadas às frentes parlamentares evangélica e católica.

Gastão endossou a ideia de levar o texto a votação na próxima semana, afirmando que o relatório de Garcia já está pronto. O parlamentar também destacou que a bancada vai fazer com que os cristãos possam propor pautas diretamente no colégio de líderes, além do tempo de fala em plenário. “Vai dar protagonismo para os nossos valores cristãos, da vida, da família”, disse.

Atualmente, apenas as bancadas feminina e negra têm assentos garantidos nas reuniões de líderes. A bancada feminina é coordenada pela deputada Gisela Simona (União Brasil‑MT), enquanto a bancada negra tem à frente o deputado Damião Feliciano (União Brasil‑PB). A criação da bancada cristã amplia o número de grupos com prerrogativas institucionais dentro da casa, com coordenação-geral e três vices-coordenações.

Estado laico?
A proposta divide opiniões. PT e PSOL orientaram voto contrário, argumentando que o Estado é laico e que a criação de uma bancada religiosa seria inconstitucional. “O espaço político não pode privilegiar com voz e voto no colégio de líderes uma fé específica”, afirmou a líder do PSOL, deputada Talíria Petrone (RJ).

Na justificativa do projeto, Nascimento e Gastão lembram que o Brasil é “uma nação de maioria cristã, com mais de 80% da população professando a fé cristã”, e que essa “realidade social deve encontrar correspondência na representação política e no espaço democrático da Câmara”.

Com a urgência aprovada, a resolução pode ser colocada em votação a qualquer momento, a depender apenas da vontade do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). A proposta foi levada ao plenário um dia depois de Motta participar de um culto ecumênico (foto em destaque) na casa, gesto que simboliza a força política dos grupos religiosos no Congresso.

Bancada e frente
No Congresso, é importante diferenciar bancada e frente parlamentar. Uma bancada é um grupo mais estruturado de deputados ou senadores, organizado em torno de partidos, blocos ou identidades específicas, com atuação formal na Câmara ou no Senado. As bancadas têm direito a representação em reuniões importantes, como as do colégio de líderes, e pode participar da divisão de cargos e das decisões estratégicas da Casa.

Já uma frente parlamentar – que já existe no caso dos evangélicos, por exemplo – é uma associação suprapartidária, criada para debater temas específicos, como saúde, agropecuária ou religião. As frentes funcionam como espaço de articulação sobre pautas comuns, mas não têm o mesmo poder institucional de uma bancada, servindo mais como fórum de debate e coordenação entre parlamentares interessados no mesmo assunto.