Em Minas Gerais, os enfronhados na política costumam, em época de eleição, se referir ao estado como a “síntese do Brasil”. Foi essa expressão que o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado, escolheu para mostrar sua visão sobre o universo mineiro, com 853 municípios que ele disse se tratar de “um país”. A citação de Pacheco ocorreu na quinta-feira, 12, em discurso ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia guarda semelhança com o título de estado-pêndulo, usado nos Estados Unidos para definir as regiões decisivas para eleger o presidente. Importante ressalvar que o sistema político estadunidense é totalmente diferente do brasileiro e há fatores distintos que influenciam no resultado.

No discurso, em Contagem, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, Pacheco reproduziu o sentimento comum na política mineira: quem vence em Minas, ganha na esfera nacional na mesma proporção.

Lula sabe da importância do estado. Não é à toa que ele também sinalizou que será candidato em 2026 à reeleição no mesmo evento em que chamou Pacheco de “futuro governador”. “Só pode ser coisa de Deus. Não tem outra coisa para explicar. E não é virar presidente, não. É virar presidente uma, duas e três vezes. E, se brincar, vai ter a quarta vez”, disse.

O petista investe na formação de um palanque forte e busca a aliança mais ampla possível, com Pacheco liderando essa frente. As conversas incluem formações inusitadas se observadas pela ótica nacional. O senador recebeu convites de pelo menos três partidos para ser o candidato em Minas Gerais: o PP, de Ciro Nogueira (PI), o União Brasil, de Davi Alcolumbre (AP), e o MDB, presidido por Baleia Rossi (SP). Em todas essas possíveis situações, a ideia é que Pacheco seja um candidato que consiga unir essas forças de centro e as de esquerda, representadas por PT, PSOL, Rede e PDT.

Polarização persistente
Nas últimas eleições, Minas teve um cenário polarizado, com uma disputa acirradíssima entre a direita e o chamado campo progressista. Apesar da reeleição em primeiro turno do atual governador, Romeu Zema (Novo), o resultado para a eleição nacional deu Lula, com 50,20% dos votos válidos e Bolsonaro com 49,8%. A diferença entre os dois não alcançou 50 mil votos válidos.

Agora, tanto o campo progressista quanto a direita identificam por meio de consultas internas que a polarização continua, sem dar espaço para o surgimento de uma terceira via.  Ainda não há pesquisas que revelem as intenções de voto para presidente com recorte em Minas, mas um levantamento feito pela Quaest em dezembro de 2024 mostrou o quanto cada eleitor estaria disposto a votar em Lula ou no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), conhecendo dos dois líderes políticos. A pesquisa perguntou se os entrevistados conheciam e votariam nesses candidatos. No caso de Lula, 50% dos entrevistados disseram conhecer e votar no petista, 48% disseram que não votariam e 2% afirmaram não conhecer. No caso do ex-presidente, 40% disseram conhecer e votar nele, ante 57% que responderam não votar e 4% que disseram não conhecê-lo.

Na cerimônia de Contagem, para entrega de máquinas agrícolas a municípios mineiros, a plateia era repleta de prefeitos, e Pacheco buscou conquistá-los se colocando como o lado mais sério da política. Apresentou-se como “um municipalista”, na esperança de conquistar apoio local e, ao mesmo tempo, fazer contraponto com o campo da direita, repleto de candidatos que performam bem nas redes sociais.

Direita dividida
Mas se o campo progressista tem Pacheco como único pré-candidato ao governo de Minas, na direita há pelo menos duas possibilidades desenhadas, uma já colocada oficialmente. Trata-se do vice-governador do estado, Mateus Simões (Novo), que foi lançado por Romeu Zema (Novo) logo após a reeleição de Zema governador, no primeiro turno, com 56,18% dos votos. Simões tem feito reuniões políticas em em viagens pelo interior do estado e não faz segredo de sua candidatura.

Paralelamente, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) também se coloca na disputa, embora sem oficializar seu nome como pré-candidato. Cleitinho ainda tem mais quatro anos de mandato no Senado e poderia se lançar na disputa sem amargar a condição de ficar sem mandato em uma possível derrota.

Além da divisão de nomes, a direita também de divide na estratégia. Alguns defendem uma união entre Cleitinho e Simões para se formar um palanque forte. Outros avaliam que que os dois nomes devem seguir na disputa do primeiro turno e só se juntarem na segunda fase da eleição. Claro, a torcida de Pacheco é para que a segunda opção prevaleça porque ele entende que sua grande chance está na divisão dos possíveis adversários.

O deputado do PL, Lincoln Portela, que coordena a ala mais idosa e experiente do partido, indica que a legenda estará na construção da estratégia da direita, mas sem definição de nomes por enquanto. O partido comandado nacionalmente por Valdemar da Costa Neto está dividido entre os dois projetos já lançados e ainda discute a possibilidade de lançar candidato.

Para Portela, o ideal seria que os dois nomes estivessem presentes no primeiro turno, mas com o compromisso de apoios mútuos no segundo. “O mineiro é prudente e, por isso, vai votar na direita. Nessa nova direita que se revelou”, indica Portela, ressalvando que ainda é cedo para analisar os cenários políticos em Minas. “Tudo pode acontecer, inclusive o Psol, ou PCdoB, ou o PT, ou outro partido de esquerda decidir lançar candidatura para disputar com Pacheco. Por enquanto, Pacheco ainda é futuro candidato a pré-candidato ao governo”, observou.