No início deste ano, a reforma ministerial prevista pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda era ventilada como uma forma de ampliar o espaço do Centrão no governo e, assim, garantir uma base mais sólida para o Planalto no Congresso. Agora, cinco meses depois de inaugurar a nova gestão das duas Casas Legislativas, e faltando oito meses para o limite do prazo de desincompatibilização para os que vão disputar eleições, não há mais esperanças das legendas de conseguir mais um naco da Esplanada.

A constatação é de um membro do PSD, partido comandado por Gilberto Kassab, que almejava um espaço maior no ministério de Lula, principalmente para a bancada da Câmara, ressentida por ter somente a pasta da Pesca. Um deputado do partido ressaltou, em conversa reservada, que ele ainda não nota disposição de desembarcar do governo nem do PSD nem dos demais partidos do Centrão. “O clima é de ‘deixa estar para ver como é que fica’”, disse o parlamentar. “Não é um desembarque, porque ninguém quer perder o espaço que tem. Mas não vejo mais os partidos querendo ampliar seus espaços no governo”, disse.

Presidente da federação União Brasil-PP, anunciada em abril, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) defendeu esta semana a saída do governo dos ministros do partido.  pretende continuar com os três cargos que tem na Esplanada. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (PP-AP), conseguiu recentemente a nomeação de um aliado para a Codefasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).

Lula fez reformas pontuais, mexendo com os cargos mais ligados a ele no Palácio do Planalto. Foi o caso da chegada da ministra Gleisi Hoffmann à SRI (Secretaria de Relações Institucionais), em substituição a Alexandre Padilha, que foi para a Saúde, no lugar de Nísia Trindade. Nas outras pastas, Lula fez mudanças porque se deparou com situações insustentáveis. Foram os casos dos ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos), suspeito de importunação sexual em relação à ministra Anielle Franco da (Igualdade Racial), além das saídas dos ministros Juscelino Filho (Comunicações), envolvido em denúncias de desvio de verbas, Carlos Lupi (Previdência), após o escândalo das fraude no INSS, e da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, desgastada após acusações de assédio arquivadas pela Comissão de Ética da Presidência da República três meses antes de sua demissão, em maio.

Boulos ainda cotado
A demora de Lula em tomar decisões sobre as trocas não decepcionou somente o Centrão. No caso do PSol, a possível ida do deputado Guilherme Boulos (SP) para o Planalto, em substituição ao ministro Marcio Macêdo (Secretaria-Geral), também segue indefinida. Se Boulos for para a pasta, terá de desistir de se candidatar à reeleição para deputado federal. Para o partido, significaria uma perda relevante, pois ele é visto como um grande puxador de votos em São Paulo. Por outro lado, Boulos teria a chance de aparecer mais em um cargo do Executivo e se candidatar em 2028 à Prefeitura de São Paulo, com o apoio de Lula.

Diante do impasse provocado pelo presidente, o PSol decidiu não tratar o assunto na bancada e deixar as decisões serem tomadas seguindo a vontade pessoal do deputado, que não se manifestou e ainda espera a oficialização de seu nome. “No PSol este assunto não está sendo discutido e Boulos segue cumprindo suas agendas de deputado. A bola está com o governo”, disse um parlamentar da legenda.