O cenário totalmente conflagrado na volta do recesso parlamentar e o clima polarizado entre oposição e governistas, após a decretação de prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, levaram o senador Renan Calheiros (MDB-AL) a ligar na manhã de terça-feira, 5, para o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e cancelar a audiência prevista para esta quarta-feira, 6.

O chefe da equipe econômica falaria aos deputados e senadores da Comissão Especial sobre a medida provisória 1303, que trata de medidas compensatórias ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A ideia não era só tratar dos assuntos previstos na MP, mas também sobre toda conjuntura política e econômica do país.

Presidente da comissão, Renan Calheiros entendeu que a audiência poderia funcionar como um grande palco para os bolsonaristas que iniciaram, na terça, um movimento de ocupação das mesas diretoras da Câmara e do Senado para impedir os trabalhos. 

Os apoiadores do ex-presidente querem forçar, com o protesto, que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União), coloquem em votação propostas como a que concede anistia aos condenados pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023, além de pedidos de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, relator no STF (Supremo Tribunal Federal) do processo que apura a tentativa de golpe de Estado na última transição de governo.

A intenção de Calheiros é não dar palco para o movimento da oposição crescer. Ainda não há uma nova data para a audiência, mas tanto o senador quanto o ministro avaliaram que na próxima semana a reação dos bolsonaristas à decisão de prender Bolsonaro terá se arrefecido.

A conversa de Calheiros com Haddad ocorreu na parte da manhã da terça, antes que os bolsonaristas iniciassem a ocupação das duas Mesas. Nesta quarta, Alcolumbre e Motta chamaram uma reunião com todas as lideranças para tentar uma solução para o funcionamento das duas Casas.

Ação nos Estados Unidos
Nesta quarta, ao chegar ao Ministério da Fazenda, Haddad se manifestou sobre as ações contra o Brasil nos Estados Unidos que, em sua opinião, atrapalham o país. O tom da entrevista dá uma ideia de como seria a audiência na comissão. “Confesso preocupação com a ação da família Bolsonaro nos Estados Unidos. Hoje tem uma entrevista muito forte da família Bolsonaro, do Eduardo, ameaçando agora o Congresso Nacional e dizendo que o empresariado brasileiro do agro não está em contato com ele pedindo um arrefecimento das tensões entre os dois países”, afirmou Haddad.

“Eles estão dizendo que vão atrapalhar o país. Eles estão anunciando isso. Tem uma entrevista no jornal de um líder da oposição da extrema direita brasileira dizendo que vai fazer o possível para continuar atrapalhando o país”, disse. “[O Brasil] é o único país do mundo que tem uma força política interna em Washington trabalhando contra o interesse nacional. Tem algum indiano fazendo isso? Tem algum chinês fazendo isso? Tem algum russo fazendo isso? Tem algum europeu fazendo isso? Não”, acrescentou o ministro.

Governadores
Haddad defendeu ainda que governadores da oposição também deveriam trabalhar para reverter as tarifas pressionando a família do ex-presidente. “Isso tem que envolver os governadores de oposição, porque aqui não se trata mais de situação de oposição. Os estados estão sendo afetados. Então, os governadores que têm proximidade com a extrema-direita, eles têm que fazer valer as prerrogativas do seu mandato. Não é fingir que não tem nada acontecendo, se esconder embaixo da cama e desaparecer”, criticou Haddad.

“O empresariado, além de vir para Brasília, tem que conversar com a oposição, tem que passar a mão no telefone e ligar para a turma que quer ver o circo pegar fogo e parar com isso”, defendeu o ministro.