Que o mundo político quase sempre atua em defesa de interesse próprio não chega a ser novidade. O que às vezes surpreende, e revolta, é o exagero, a manifestação explícita e incoerente de alguns atores desse cenário, pouco se importando com o próprio currículo, e o juízo da opinião pública. Nada mais estranho, e inesperada, a atitude adotada pelo Presidente do Senado Federal, Senador Davi Alcolumbre, dando sinais evidentes da sua posição contrária à indicação do nome de Jorge Rodrigues de Araújo Messias, a cadeira de Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Algumas dezenas de vezes, como é sabido, a instituição Senado Federal, com garbo e nobreza, se manifestou com seguras atitudes democráticas, éticas, imparciais e calcadas apenas nas manifestações de seus eleitos, por escolhas livres e sem censura. São visíveis, e sem rodeios, os sintomas emitidos pelo centro nervoso do Senado o seu total descontentamento pela manifesta escolha do Presidente da República, ao indicar o nome de Messias a Corte Suprema, ao invés do preferido de Alcolumbre, o Senador mineiro Rodrigo Pacheco, ex-presidente da Casa, postulante também sobejamente qualificado.

Revisitando a história, e a soberania da nossa democracia, a escolha do Ministro do Supremo Tribunal Federal, segundo a Constituição é do Presidente da República, referendada pelo Congresso Nacional, após os trâmites legais. Gostar, aprovar ou considerar correto ou não que a escolha seja feita dessa forma é o direito de cada um.

A própria comunidade, centenas de vezes, já se manifestou sobre esse critério, sugerindo concursos, votação entre os pares e outras formas de se eleger o magistrado. Como o que prevalece é o que determina a carta magna, causa estranheza a todos que, por não concordar com a indicação de determinado nome para o cargo, o Senado se arme de arco e flecha e chame o Governo para a guerra.

A luz da razão, mesmo que não haja por parte dos senadores que votaram na escolha do novo ministro, nenhuma restrição conceitual, seria ingenuidade negar que as evidências dizem o contrário. Negue quem quiser, mas o clima criado em torno do nome indicado pelo presidente da República é de rejeição, sem que nenhuma manifestação que desminta isso tenha sido esboçada pela presidência da casa, em momento algum. O que é desabonador para uma instituição de tamanha representação, e simbolismo. O rito processual, para que o Senado Federal aprove o nome que o Presidente da República indique para ocupar uma vaga no Supremo, segue um protocolo simples, objetivo e técnico.

O candidato tem que ter entre 35 e 70 anos, demonstrar e comprovar seu conhecimento jurídico e conduta ilibada em todos os sentidos. Preenchidas essas questões, cabe aos senadores avaliar a veracidade dos fatos, questionar o que possa gerar incertezas, e definir com o voto se o postulante reúne condições para o cargo, ou não.

Como de praxe, uma intensa sabatina questionará o escolhido, apresentando em seguida um veredito. Da forma como procede hoje o Senado, fica evidente uma indisfarçável manifestação de repúdio ao indicado, arrolando sem constrangimentos mazelas pouco comuns nas históricas e bem avalizadas decisões naquele ambiente. O agendamento açodado, para que Messias fosse ouvido pela Comissão de Justiça, e em seguida julgado, consolidou essa repulsa pelo candidato e patenteou a antipatia pelo seu nome. Gesto que sugeriu deselegância, quiçá grosseria.

Pena que ainda nos dias de hoje o revanchismo político ainda sobreviva, de forma tão intensa e às vezes difícil de explicar ao cidadão comum. Alguém deve se lembrar que dias atrás, o mesmo Alcolumbre que hoje está no centro dessa polêmica, com amplo sorriso festejava e agradecia ao Governo Federal e ao Ibama, a autorização para pesquisas de exploração de petróleo, numa região onde seu potencial de voto é robusto.

O Brasil político é plural, embora quando se trata de atravessar fronteiras em busca de benefícios próprios, se torne rapidamente singular. Quem apoia, defende e pratica a democracia em sua essência, tem como norma de conduta a aceitação da livre escolha, abstendo-se de tentar influenciar, ou impor a outros, aquilo que apenas o satisfaça. Analistas políticos, com jurisprudência firmada e com mais tempo de estrada, não escondem a surpresa e alguma dose de curiosidade sobre o desfecho que se avizinha sobre a questão.

Há nos bastidores da República um amontoado de versões sobre qual a moeda de troca entrará nesse embate. Ao apagar das luzes do ano de 2025, ninguém esperava ver tantos holofotes voltados para a escolha de Messias.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais