A briga entre o governo de Donald Trump e ministro Alexandre de Moraes ganhou um novo capítulo com o inquérito aberto no STF para investigar o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). No pedido para instaurar a investigação, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o parlamentar licenciado tem usado de sua influência política nos Estados Unidos para tentar intimidar a cúpula do Judiciário.

Se na semana passada aliados de Trump já ameaçavam aplicar sanções a Moraes, a aposta agora é que a briga subirá de tom. No pedido enviado ao Supremo, Gonet cita postagens em redes sociais e entrevistas a veículos de imprensa concedidas por Eduardo Bolsonaro.

Ainda segundo Gonet, há evidências de que a suposta tentativa do filho do ex-presidente de acuar o Supremo tem por objetivo interferir no “andamento regular dos procedimentos de ordem criminal, inclusive ação penal, em curso contra o sr. Jair Bolsonaro e aliados”.

O relator do novo inquérito é o próprio Moraes, que determinou o interrogatório de Eduardo e Jair Bolsonaro, já que o ex-presidente seria o principal beneficiado da suposta orquestração do filho. O procurador-geral também quer obter autorização para monitorar as postagens de Eduardo Bolsonaro em redes sociais.

De fato, os ataques de Eduardo Bolsonaro e de autoridades dos Estados Unidos aumentaram à medida que avançaram as investigações no STF sobre o plano de Jair Bolsonaro de continuar no poder, mesmo derrotado nas urnas. Moraes também é o relator desses processos.

A ação penal contra o ex-presidente foi aberta no fim de março. Na semana passada, o Supremo começou a interrogar testemunhas para instruir o processo. De maneira pouco usual, o próprio Moraes resolveu conduzir os depoimentos com pulso firme.

Jair Bolsonaro é um importante líder da direita na América Latina e costuma dar declarações de apoio a Trump. A decisão de Eduardo Bolsonaro de se licenciar do mandato revela o verdadeiro motivo da mudança dele para os Estados Unidos.

A nova leva de ameaças a Moraes foi encampada pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio. Ele disse que existe uma “grande possibilidade de Moraes receber sanções do governo americano, sem especificar quais seriam elas.

A fala de Marco Rubio foi registrada na quarta-feira, 21, durante um depoimento no Congresso americano. Um deputado republicano tinha criticado a “censura generalizada e perseguição política” e questionou se Moraes poderia ser alvo da Lei Magnitsky, usada para reagir a casos de corrupção e violações dos direitos humanos em outros países.

“Isso está sob análise no momento e há uma grande possibilidade de que isso aconteça”, respondeu o secretário. A réplica do Judiciário brasileiro veio na forma de instauração do inquérito para investigar o filho do ex-presidente.

Além da atuação do STF, o governo Lula planeja agir com firmeza, porque considera os ataques de Trump uma forma de ameaçar instituições brasileiras. A estratégia, no entanto, ainda não foi planejada porque, na prática, não houve ainda qualquer sanção imposta pelos Estados Unidos a Alexandre de Moraes.

A partir do movimento do Supremo, o mais provável é que o governo Trump reaja logo.