O governo quer aproveitar a movimentação desencadeada no mundo pela política protecionista dos Estados Unidos para negociar investimentos em áreas sensíveis das contas externas brasileiras. A ideia da equipe econômica é desenvolver cadeias produtivas que agreguem valor a produtos brasileiros e que diminuam, por exemplo, os gastos com serviços contratados com empresas de outros países. Dessa forma, acreditam os técnicos do governo, a economia brasileira poderá crescer sem aumentar o rombo nas transações do Brasil com o exterior.

Historicamente, um dinamismo maior do nível de atividade é acompanhado por aumento de importações de produtos e, também, das despesas com serviços como transportes, aluguel de máquinas e equipamentos, seguro, propriedade intelectual, telecomunicações, computação e informações. Esses são segmentos relacionados diretamente ao Plano de Transição Ecológica, definido como um impulsionador do crescimento econômico para os próximos anos.

O plano reúne eixos centrais para o debate mundial de descarbonização do planeta como transição energética, bioeconomia, infraestrutura e adaptação climática. E envolve iniciativas para que os países dependam cada vez menos dos combustíveis fósseis, como gás natural e petróleo. Nessa linha, o hidrogênio de baixo carbono, considerado o combustível do futuro, tem um papel essencial.

“Essa transição ecológica é uma oportunidade única”, afirma o secretário MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Uallace Moreira (Desenvolvimento Industrial). "E o hidrogênio de baixo carbono precisa de energia limpa, que o Brasil tem um potencial de transição econômica que ninguém mais tem", argumenta. Segundo ele, o Brasil não pode aceitar ser "colônia" nessa área de transição energética, onde apenas exploram as fontes naturais para agregar valor em outro país. "Queremos desenvolver, também, cadeias produtivas aqui", diz o secretário, ressaltando que isso permitirá diminuir a dependência externa do Brasil de serviços do exterior.

Dados do Banco Central mostram que o rombo nas contas externas cresceu 59% nos primeiros três meses de 2025 comparativamente ao mesmo período de 2024. Além do crescimento das importações contribuíram para esse desempenho os gastos com serviços. Se somarmos os gastos líquidos com transportes, seguro, serviços de propriedade intelectual, aluguel de equipamentos, telecomunicações, computação e informações, em 2024, o resultado é um déficit superior a US$ 41 bilhões, já descontadas as receitas obtidas.

Um caminho defendido dentro da equipe econômica é o desenvolvimento interno de parte da infraestrutura digital que hoje está hospedada fora do Brasil, sobretudo nos Estados Unidos.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) embarcará nos próximos dias para uma rodada de conversas com empresários americanos levando na mala as linhas gerais do novo marco de data centers com o objetivo de atrair mais investimentos ao Brasil e ampliar a infraestrutura digital do país. O governo ainda finaliza o documento que deverá ser lançado oficialmente no mês que vem.

Em evento essa semana em São Paulo, Haddad enfatizou a importância dessa viagem. “Somos deficitários no balanço de serviços”, afirmou, ressaltando que “60% da nossa TI contratamos fora” e que isso significa remessa de dólares para fora do país e subinvestimentos. “Isso não se explica”, reagiu o ministro, argumentando que o Brasil tem as melhores condições climáticas, com ventos e sol que favorecem a instalação de data centers ao lado da fonte energia limpa, com investimentos baixos.

Essa política, segundo o secretário do MDIC, permitirá desenvolver no país toda a cadeia, impulsionando o mercado de trabalho. Ele exemplifica que o segmento de data center pode não gerar uma quantidade significativa de vagas de trabalho, mas a infraestrutura e o serviço que são agregados posteriormente têm impacto para a chamada indústria 4.0. Na prática, a quarta revolução industrial que envolve a integração de tecnologias digitais avançadas em processos industriais.