Perto da entrada em vigor da sobretaxa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para exportações brasileiras, o Palácio do Planalto vislumbra a chance de se reaproximar da cúpula do Congresso. Apesar do silêncio dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que nos últimos dias não falaram sobre o assunto, a avaliação é de que os interesses confluem tanto no campo político quanto no campo econômico para mudar o ambiente hostil que havia restado do primeiro semestre, em especial devido aos embates sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
A ideia é promover um “reagrupamento” entre o Executivo e o Legislativo em torno de uma pauta comum que possa combater internamente os efeitos ruins do tarifaço de Trump. Os motivos são coincidentes. O governo entende que há espaço para articulações que beneficiem setores que mantêm boa relação com os partidos do Centrão, como a indústria, o agro e o comércio. Motta e Alcolumbre integram o blocão parlamentar, majoritário no Congresso.
Sinais
O primeiro sinal de que essa reaproximação poderia ocorrer se deu com a aprovação da Lei da Reciprocidade, aprovada em abril e regulamentada no dia 15 de julho, dentro da perspectiva do tarifaço de Trump. Agora, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tentará focar em ações que amenizem os problemas que a sobretaxa causará para setores específicos. O chefe da equipe econômica já avisou que as medidas, que envolvem emprego e crédito, dependerão de aprovação do Congresso.
Além das propostas do Executivo que devem chegar ao Parlamento, a depender dos efeitos das tarifas de Trump, a avaliação é também de que o tarifaço criou um ambiente político bastante hostil para a o campo da direita. Na avalição de membros do governo, essas circunstâncias isolam a oposição mais radical ao governo Lula.
O próprio PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, enfrenta dificuldades de coesão diante dos movimentos feitos pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. O filho do antecessor de Lula se apresenta como um dos articuladores da ofensiva de Trump que atinge o Brasil e, nos últimos dias, vem tentando explicitamente obstruir os trabalhos da missão de senadores que viajou a Washington em busca de algum topo de ajuda para reverter o tarifaço.
Na volta do recesso, na semana que vem, os efeitos e as medidas contra o tarifaço de Trump serão assuntos obrigatórios entre os líderes do Congresso. Estarão em pauta, ainda, discussões sobre possíveis sanções contra Eduardo Bolsonaro que estão sendo cobradas de Motta. Nesse caso, ainda não há um posicionamento público do presidente da Câmara, embora se saiba que dificilmente a cassação do parlamentar eleito por São Paulo será colocada em votação.