Em toda crise que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, há o dedo de algum de seus filhos. Esta é a conclusão de um estudo feito pela Ativaweb Inteligência Digital, que analisou dados e comportamento da família Bolsonaro nas plataformas desde 2019. Autor de “Brasil digital — nas entrelinhas da polarização política”, o CEO da Ativaweb, Alek Maracajá, afirmou que, embora conserve mais de 17 milhões de seguidores, o império online do ex-presidente está em declínio.
E é a própria ação digital dos filhos do ex-presidente que corrói esse patrimônio. Analisando o perfil de Carlos Bolsonaro, que assumiu o comando de comunicação da família durante o governo do pai (2019-2022), o estudo revelou que suas semanas de protagonismo nas redes sociais, sobretudo no antigo Twitter, elevaram em 35% as menções negativas ao governo de Jair Bolsonaro, potencializando em 22% as crises digitais. Adepto de uma comunicação improvisada e conflituosa, Carlos repele o apoio dos moderados e isola a família no radicalismo.
A contribuição de Eduardo Bolsonaro para esse declínio se deu em dois momentos, aponta o levantamento: o primeiro, em 2019, com sua pressão por ser embaixador do Brasil em Washington e a história de colocar no currículo que fritou hambúrguer nos Estados Unidos; e o segundo, em 2025, com um estrago ainda maior, com suas articulações junto ao governo Donald Trump por sanções e tarifas contra o Brasil e o STF.
A atuação de Eduardo nos EUA elevou em 52% as menções negativas ao sobrenome Bolsonaro, com 32% de narrativas ligando a família a interesse particular do deputado. O desgaste contaminou o próprio Jair Bolsonaro, que passou a ter 11% a mais de menções negativas, mesmo impedido de usar as redes, por ordem do STF.
Os outros filhos políticos do ex-presidente, Flávio e Renan, com envolvimento em escândalos e polêmicas, também ajudam a ampliar as crises, afirmou Maracajá.
O levantamento da Ativaweb apontou que outras ações digitais dos Bolsonaros colocaram o ex-presidente em isolamento. O estudo citou como principais problemas o rompimento com aliados — deixando de segui-los e criticando-os publicamente; a incitação a brigas internas na direita; e a falta de habilidade para construir alianças.
“O maior inimigo do bolsonarismo não foi a oposição nem a imprensa. Foram os próprios filhos, que transformaram sucessão em sabotagem e liderança em desgaste”, avaliou Maracajá, lembrando que nenhum dos filhos de Bolsonaro conseguiu chegar perto da projeção do pai.