O cineasta Kleber Mendonça Filho deve ter acordado ansioso neste domingo, 18. Logo mais, seu mais novo filme, “O agente secreto“, disputa a Palma de Ouro em Cannes. Em meio à corrida pela campanha do longa estrelado por Wagner Moura, o diretor de “Bacurau”, “O som ao redor” e “Aquarius” conversou sobre política, cinema, relação com festivais e prêmios, entre outros temas.

Kleber Mendonça disse que tem dificuldade de falar sobre o filme que as pessoas ainda não viram.

“Eu não quero fazer ou falar como um vendedor. ‘Ah, meu filme está lindo’”, explicou. O cineasta contou que Wagner Moura ficou três meses filmando o longa em Recife, no ano passado, e a montagem levou quase oito meses. Agora, ele se esforça para que “O agente secreto” chegue aos cinemas do Brasil no segundo semestre.

O cineasta se desdobrou em elogios a Walter Salles Junior e Fernanda Torres pelo filme “Ainda estou aqui”. “É um trabalho que me impressionou muito e me encheu de entusiasmo de pensar como todos nós somos parte da cultura brasileira. Nós temos esse papel. Não é um papel oficial, não tem uma escola que ensina como você se comporta ao viajar com o Produto Brasileiro de Cultura.”

Sobre fazer cinema em Recife, fora do eixo Rio-São Paulo, o cineasta defende as cotas regionais e todos os programas públicos de incentivo ao cinema e ao audiovisual.

“Eu acho que fazer cinema fora do eixo Rio-São Paulo se transformou numa real possibilidade. Eu acho que, para quem está começando hoje, e eu venho falando isso já há alguns anos, você pode morar no Tocantins, você pode morar em Brasília, você pode morar em Manaus, você pode morar no interior de Santa Catarina, você pode morar no sertão do Seridó, no Rio Grande do Norte.”

Para ele, as facilidades da tecnologia ampliaram as chances de se fazer cinema a partir de qualquer lugar. “Você pode efetivamente fazer um filme através de celulares que filmam em 4K e são cada vez melhores. Então, eu acho que o mundo do ponto de vista técnico, ele nunca foi tão fértil para você desenvolver suas ideias.”

O cineasta prosseguiu:

“É difícil? É claro que é difícil. É muito competitivo. As ideias, elas fazem parte de um mercado de ideias que não deixa de ser um mercado de ideias. Mas, aos poucos, se você tem o talento, se você tem o que dizer, eu acho que é um momento muito fértil de se expressar através do audiovisual.”

Mais que recursos públicos para o audiovisual, Kleber Mendonça defende políticas de formação de público e ingressos acessíveis ao cinema. “Eu acho que é, por exemplo, imoral você pagar hoje R$ 90 para ver um filme”. Esses preços afastam a plateia, principalmente diante da concorrência do streaming com mensalidades de R$ 20, R$ 30, afirmou.

“Então, eu acho que dentro da cadeia produtiva do audiovisual, a gente precisa estimular a formação de público, novas salas públicas, salas de formação de público e também a divulgação dos nossos filmes, porque nós temos cerca de 130, 140 filmes por ano e muitos desses filmes não encontram o terreno fértil para que aconteçam”, disse Kleber.