Em meio à divulgação de pesquisas de popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto para apresentar informações da economia que considera positivas. A perspectiva do Planalto é que os levantamentos apontem um desgaste do governo e do próprio presidente. Dois pontos são mais preocupantes: a demora em apurar e explicar a fraude de descontos nos benefícios dos aposentados, e o desastrado anúncio de aumento de impostos. A pesquisa mais aguardada, do instituto Quaest, será divulgada nesta quarta-feira.

Na entrevista, Lula reforçou a confiança no ministro Fernando Haddad (Fazenda). Avaliou que não houve erro do ministro em anunciar as novas tarifas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e, depois, voltar atrás em parte das medidas divulgadas. O presidente buscou dar um ar de naturalidade à negociação sobre o aumento do imposto, sem fazer ressalvas em relação às alternativas negociadas com o Congresso.

As medidas foram anunciadas no final de maio e, posteriormente, o governo recuou de parte delas diante de reações do setor financeiro. “Era uma sexta-feira e eles queriam anunciar isso rápido para dar tranquilidade à sociedade brasileira. Eu não acho que tenha sido um erro, não. Eu acho que foi um momento político, sabe? Em nenhum momento o companheiro Haddad teve qualquer problema”, disse o presidente.

O aumento das alíquotas de IOF foi pensado pela equipe econômica para tentar fechar as contas do governo. De acordo com Haddad, a expectativa é arrecadar R$ 18,5 bilhões ainda neste e R$ 38 bilhões em 2026 com a elevação das alíquotas.

Pesquisa divulgada nesta terça pelo PoderData, a aprovação ao governo continua em queda e, a desaprovação, em alta. O resultado mostra que o governo Lula é hoje desaprovado por 56% e aprovado por 39% dos entrevistados. A desaprovação cresceu 3 pontos percentuais nos últimos dois meses e a aprovação desceu 2 pontos. A piora do cenário ocorre dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 2 pontos percentuais. A consulta foi realizada entre os dias 31 de maio a 2 de junho, depois da divulgação das fraudes.

INSS
Em relação à crise do INSS, Lula buscou reforçar que o governo está priorizando o ressarcimento dos descontos não autorizados. “Antigamente as pessoas roubavam o banco, antigamente as pessoas roubavam a gente rica, mas agora está pobre roubando pobre”, disse Lula. “A nossa preocupação, além de permitir que as instituições que têm que fiscalizar, fiscalizem, é permitir que o governo comece a tratar de ver o pagamento mais rápido possível das pessoas que foram lesadas”, disse.

O presidente também reafirmou a ideia de que os responsáveis serão punidos, mas após investigações realizadas com cautela. “Não queremos punir nenhuma entidade de forma precipitada, por isso a cautela que eu disse à CGU, à Polícia Federal, muita cautela para a gente não levar uma pessoa a ser crucificada e depois a gente não pede desculpa. Não tem importância que demore uma semana a mais, um mês a mais”, observou o presidente. “O que nós estamos pedindo é dar uma chance às entidades para que elas apresentem prova da veracidade da assinatura das pessoas”, disse o presidente.

“Se alguma apresentar, será levada muito a sério, será investigada corretamente. E, se ela não cometeu nenhum erro, ela não tem que pagar o preço, mas as outras terão que pagar o preço, com perda de patrimônio”.

Juros “precificados”
Ao ser questionado sobre a diferença de tratamento dispensado ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado por ele, e o antigo presidente, Campos Neto, indicado por Bolsonaro, Lula se justificou dizendo que considera que os juros estão “muito altos” no Brasil, mas que isso já está “precificado’ e que agora as taxas devem começar a baixar porque a inflação, segundo o presidente, está controlada.

“Você acha que eu não critico juros porque é o Galípolo que está lá? Não, não é por conta disso. É por que quando a gente discute no governo, o que está acontecendo já estava precificado. A gente já sabia que ia acontecer”, disse o presidente. “Então, o que nós estamos conscientes é de que a inflação está controlada, começou a cair o preço dos alimentos e eu acho que logo, logo, o Banco Central vai tomar a atitude correta de começar a abastar os juros. Os juros estão muito altos”, disse.

Renúncias fiscais e Vale Gás
Lula sinalizou ainda que o governo deve rever renúncias fiscais, de R$ 800 bilhões, para empresas. “Não é pouca coisa”, disse. Para Lula, o governo “fica se matando para cortar R$ 30 bilhões no orçamento” enquanto esse valor poderia ser retirado do bolo das renúncias fiscais. “Acontece que as pessoas acham que é um direito adquirido”, reclamou.

Lula também buscou apresentar propostas com impacto social e disse que o governo está prestes a anunciar um novo “Vale Gás”, aguardando a definição de uma data para ser lançado oficialmente Ele criticou a alta do preço do combustível. “Não é justo o botijão de gás chegar a R$ 140. Está pronto o programa, vamos só escolher a data de lançar”, comunicou o presidente.