O Copom (Comitê de Política Monetária) sinalizou na ata da última reunião, divulgada nesta terça-feira, 11, que não deve iniciar o ciclo de cortes de juros em janeiro em 2026, mesmo com as pressões políticas do governo. Com isso, as apostas são de que um eventual processo de redução da taxa só deve começar a partir de março do próximo ano.
Chamou a atenção o fato de que os diretores do Banco Central incorporaram nas projeções o impacto inflacionário da isenção de IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5 mil. Essa decisão mostra que não há conforto entre os integrantes do colegiado em iniciar um processo de redução da Selic, diante das incertezas sobre os impactos da política fiscal do governo.
“Por fim, o Comitê optou por já incorporar uma estimativa preliminar do impacto da medida de ampliação da isenção do imposto de renda. O Comitê considera que tal estimativa é bastante incerta e acompanhará os dados para calibrar seus impactos”, informou o Copom.
No próximo ano mais dinheiro estará disponível no bolso dos brasileiros com a isenção de IR. Tradicionalmente, qualquer espaço no orçamento das famílias no país se transforma em consumo e não em poupança. Com isso, o BC indica cautela sobre os impactos inflacionários e se isso determinará que os juros a fiquem altos por mais tempo.
Maior convicção
A autoridade monetária também indicou que está confiante no sucesso da estratégia de manter a Selic em 15% por mais tempo.
“Na medida em que o cenário tem se delineado conforme esperado, o Comitê dá prosseguimento ao estágio em que opta por manter a taxa inalterada por período bastante prolongado, mas já com maior convicção de que a taxa corrente é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, escreveram os diretores do BC na ata.
Na prática, o BC tem sistematicamente contrariado os apelos e pressões governistas para iniciar o ciclo de cortes de juros e apresentado argumentos técnicos para isso. Resta saber se o clima entre o presidente Luiz Inácio da Silva, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e o presidente do BC, Gabriel Galípolo, vai piorar, diante da decisão do Copom de manter a Selic inalterada.
Como mostrou o PlatôBR, Lula levou Galípolo para a viagem à Indonésia e à Malásia. O petista aproveita esse tipo de oportunidade, com longos voos, para azeitar a relação com políticos e outras autoridades. As indicações da ata do Copom mostram que os diretores do BC não devem se sensibilizar com os reiterados pedidos de Lula e Haddad para reduzir os juros.
