“CPI se sabe como começa, mas nunca se sabe como termina”, diz o ditado repetido exaustivamente no Congresso em tempos de crise. É uma referência ao potencial de perda de controle de uma investigação parlamentar. O caso da CPI Mista do INSS parecia contornar, pelo menos pelo lado do governo, o risco de danos.
O Palácio do Planalto acreditava ter tudo sob controle graças a um acordo firmado com a cúpula do Congresso. Para as posições de presidente e relator, os dois mais importantes postos da comissão, haviam sido indicados parlamentares tidos como moderados, que dificilmente criariam embaraços para o governo.
Acontece que a base governista cochilou e a oposição conseguiu uma reviravolta: aprovou os nomes de dois de seus integrantes, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), para os dois postos. Assim, se o Planalto esperava um ambiente mais tranquilo, agora se vê obrigado a preparar seus aliados para o enfrentamento.
As primeiras medidas já foram postas em prática. E uma das mais importantes foi apresentar um requerimento para convocação do ex-presidente Jair Bolsonaro. O pedido foi feito na quarta-feira, 20, pelo deputado Rogério Correia (PT-MG), e endossado por outros dois petistas que integram a comissão, Alencar Santana (SP) e Paulo Pimenta (RS).
Esse requerimento, por si, é chumbo contrário a um movimento da oposição para levar para o centro das investigações José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Frei Chico é vice-presidente de uma das entidades investigadas pela Polícia Federal no escândalo do INSS, o Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos). Só em 2023, o sindicato arrecadou R$ 90 milhões com os descontos nos pagamentos de aposentados.
A prática de parear armas é comum em investigações parlamentares. Para fazer frente à ofensiva contra o governo, parlamentares aliados costumam buscar vulnerabilidades de integrantes da oposição. Por vezes, graças a esse jogo, o temor de um lado leva o outro a recuar e as ameaças acabam em acordo – ou tentativas de acordo – para evitar personagens e temas sensíveis de parte a parte.
Assim aconteceu em algumas CPIs importantes da história recente, como a que investigou o escândalo do mensalão – à época, para reagir às denúncias que miravam petistas a base do governo desenterrou um esquema semelhante do PSDB de Minas Gerais, que passou a ser chamado de “mensalão tucano”. O PSDB, àquela altura, era um dos principais partidos da oposição ao governo do PT.
Agora, na CPI do INSS, o petista Rogério Correia nega a mudança na estratégia, mas reconhece que, com o comando da comissão nas mãos da oposição, os ânimos se acirrarão. “Bolsonaro já teria de ser chamado em qualquer circunstância. Quem comunicou que ele sabia de todo processo foi o senador Izalci Lucas, que é bolsonarista e disse ter avisado Bolsonaro sobre o esquema ainda na transição de governo”, disse o deputado ao PlatôBR.