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Crescimento do PIB acima das estimativas é uma armadilha para Lula

Estímulos fiscais nos dois primeiros anos de mandato levam a medidas restritivas, como a alta dos juros, que tendem a desacelerar a economia no período da disputa eleitoral

O presidente interino do Banco Central, Gabriel Galípolo
Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

Era para ser motivo de comemoração, mas o crescimento de 3,8% da economia registrado em 2024 endossou a discussão sobre erros na condução da política fiscal do governo Lula e a necessidade do choque de juros promovido pelo Banco Central.

A análise que se faz no mercado é a de a equipe econômica inverteu a lógica do chamado "Ciclo Político de Negócios". O termo refere-se à implementação de políticas públicas restritivas na primeira metade do mandato para equilibrar as contas com a adoção, nos dois anos seguintes, de medidas de aumento dos gastos para maximizar a popularidade dos governantes.

Neste seu terceiro mandato, Lula fez o contrário: aumentou os gastos nos dois primeiros anos e, em 2025 e 2026, precisará segurar o crescimento da economia para controlar a inflação.

O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC ainda é uma prévia do desempenho da economia no ano passado e mostra uma atividade mais acelerada do que previa a própria equipe econômica e os analistas de mercado (3,5%), ainda na esteira dos impulsos fiscais dados pelo governo em 2023, primeiro ano do terceiro mandato de Lula.

Na lista da agenda fiscal positiva para a economia, nesse período, estão o aumento do salário mínimo, o reajuste dos servidores públicos, a correção da tabela do Imposto de Renda, a ampliação do Bolsa Família e o  pagamento de precatórios represados. São gastos públicos que impactaram a renda e o consumo, estimulando investimentos das empresas e o mercado de crédito.

Isso levou ao que, no final do ano passado, o então diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, chamou de “efeito multiplicador surpreendente” na atividade econômica. Segundo o economista, o fenômeno se deu menos pelo tamanho do impulso fiscal e mais pelo “efeito que está gerando”. Hoje, como presidente do BC, Galípolo comanda um choque de juros com objetivo de conter a consequência desses estímulos fiscais: mais inflação.

Essa pressão nos preços vem, em parte, porque a demanda está maior do que a capacidade de ofertar bens e serviços. Para analistas e economistas, o nível de crescimento da economia brasileira sem riscos para a inflação oscilaria entre 2% e 2,5% ao ano. O dado oficial que mostrará quanto o Brasil cresceu de fato em 2024 só será divulgado em março pelo IBGE. Mas a prévia de 3,8% aponta um ritmo bem acima do potencial do país.

“Há aprendizados importantes nesse dado: a expansão fiscal de cerca de 3% do PIB em 2023 gerou muita distorção”, diz o economista de um banco privado. “Primeiro, foi financiada com mais endividamento público e a dívida explodiu, depois colocou o PIB acima do potencial e gerou mais inflação”, emenda.

O remédio para tentar reequilibrar a economia e tentar fazer com que a inflação que beira os 5% recue para o patamar de 3% já foi ministrado pelo BC: alta de dois pontos percentuais na taxa básica de juros, a Selic, em dois meses e a previsão de mais um ponto de elevação no mês que vem, alcançando 14,25% ao ano. Pelas projeções atuais do mercado, os juros ficarão em torno de 15% ao ano durante boa parte de 2025.

A estratégia é desacelerar a economia. Acredita-se que o PIB de 2025 deva ficar abaixo de 2%. E o canal principal para o BC é o mercado de crédito, que ajuda a desestimular investimentos financiados, em especial dos pequenos e médios negócios, e reduz emprego e renda. O problema é que tudo isso deverá se consolidar a partir do segundo semestre deste ano e em 2026, ano de disputa eleitoral - e também o período no qual Lula já disse que quer colher frutos das medidas implementadas nos primeiros anos da sua gestão.

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