ROMA - A julgar pela presença de seus principais personagens, a Praça dos Três Poderes se transferiu nesta sexta-feira, 25, para a Piazza Navona, onde está a embaixada brasileira na capital da Itália. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou trazendo os chefes do Legislativo e do Judiciário para o funeral do papa Francisco, que será enterrado neste sábado, 26, na Basílica de Santa Maria Maggiori, no centro de Roma.

Já era início de tarde quando a comitiva chegou à capital italiana. O principal compromisso da agenda é o enterro, mas no fim do dia Lula saiu da embaixada acompanhado do presidente da Câmara, Hugo Motta, do Senado, Davi Alcolumbre, e do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, para visitar a Basílica de São Pedro, no Vaticano, e ver de perto o corpo do papa. Ministros e outros parlamentares que também integram a comitiva acompanharam, assim como a ex-presidente Dilma Rousseff.

Paralelamente às cerimônias de despedida de Francisco, na viagem Lula tem assuntos importantíssimos para tratar com os chefes dos demais poderes e, desde a partida de Brasília, teve tempo de sobra para conversar a respeito. No percurso até Roma a bordo do avião presidencial, ele, a primeira-dama Janja da Silva, Barroso, Motta, Alcolumbre e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, viajaram em uma ala do avião separada dos demais participantes da comitiva. Ao chegar no Palazzo Pamphili, onde funciona a embaixada, Motta foi indagado pelo PlatôBR sobre o que conversaram no trajeto, mas saiu pela tangente. "Só amenidades", disse, entre risos. 

O ponto mais delicado da pauta hoje é justamente a proposta defendida por Motta que busca uma saída consensual, com participação dos demais poderes, para abrandar a situação dos envolvidos nos atos golpistas de 2023, alguns já condenados pelo STF. Lula tem evitado falar publicamente sobre o tema. Motta tenta costurar um acordo que não signifique passar por cima do que já decidiram os ministros do STF. A tendência é que o acordo, se sair, não inclua nem o ex-presidente Jair Bolsonaro nem os militares de alta patente apontados como cabeças da trama.

Outro fator que vem demandando uma aproximação maior de Lula com o Legislativo e com o Judiciário diz respeito ao escândalo envolvendo descontos indevidos nos pagamentos dos aposentados. O caso custou a cabeça de Alessandro Stefanutto, que comandava o INSS até o início desta semana. Até o momento, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, vem sendo poupado pelo Planalto.

O governo tenta emplacar a narrativa de que, hoje, à diferença de gestões anteriores, as denúncias de corrupção são investigadas. A oposição, no entanto, já começou a colher assinaturas para a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar no Congresso o esquema. Se o número mínimo for alcançado, caberá a Motta abrir ou não a comissão. A pressão pode aumentar.

Dilma Rousseff, atual presidente do banco dos Brics (grupo de países encabeçado por Brasil, China, Índia, África do Sul e Rússia), disse que viajou da China, onde fica a sede da instituição, até Roma por se sentir obrigada a prestar homenagem ao papa Francisco, que ela conheceu bem. "Vim da China até aqui porque era minha completa obrigação, meu completo desejo. Eu não podia deixar ele partir sem eu estar aqui", disse ao chegar à embaixada brasileira.

"Ele foi uma das lideranças com as melhores características do ser humano. Um exemplo para todo mundo, uma generosidade com os pobres, um reconhecimento da importância desse mundo virar um mundo mais igual", disse a petista. "Uma recusa da guerra e do preconceito com imigrantes", prosseguiu.

Neste sábado, cinco membros da comitiva brasileira poderão entrar na cerimônia do sepultamento de Francisco. Os nomes já estão definidos: além do próprio Lula, o grupo será formado por Janja, Hugo Motta, Davi Alcolumbre e Luís Roberto Barroso.