Depois de quatro derrotas em candidaturas ao Planalto, o ex-ministro Ciro Gomes retorna ao PSDB com planos de se candidatar a governador do Ceará. Desde 1994, quando saiu da chefia do Executivo estadual para assumir o Ministério da Fazenda a convite do presidente Itamar Franco, ele priorizou os projetos de alcance nacional. Nas conversas locais, agora, o foco é uma volta também para a política estadual.
Ciro se filiou ao PSDB na manhã desta quarta-feira, 22, depois de 35 anos em outras legendas. Ele se elegeu em 1990 e governou o estado pelo partido. Saiu da legenda para se candidatar a presidente pelo PPS (atual Cidadania) nas eleições de 1998.
A filiação desta quarta, oficializada em um ato em Fortaleza, marca o início da caminhada do ex-ministro na tentativa de recuperar protagonismo político no estado, governado desde 2014 pelo PT. Organizada pelo ex-governador Tasso Jereissati — padrinho político de Ciro —, a cerimônia reuniu lideranças de oposição ao governo de Elmano de Freitas (PT) e reforçou a tentativa tucana de reconstruir uma frente competitiva para 2026. Entre os presentes estavam os deputados André Fernandes (PL) e Alcides Fernandes (PL), o ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil) e a deputada estadual Emília Pessoa (PSDB).
A movimentação consolida uma aliança informal entre tucanos, bolsonaristas e setores de centro-direita que passaram a ver em Ciro um nome capaz de unificar a oposição no estado. A costura dessas alianças representa também um regresso do ex-ministro ao campo da direita, depois de ter iniciado a carreira política pelo PDS, partido de apoio da ditadura militar. Além dos que participaram do ato, o ex-governador também tem mantido diálogo com figuras do PL e do União Brasil que, até pouco tempo, estavam em campos opostos ao seu.
O retorno ao PSDB ocorre após a ruptura definitiva de Ciro com o PDT, legenda à qual se filiou em 2015 e pela qual disputou duas eleições presidenciais. Desde a derrota em 2022, quando obteve cerca de 3% dos votos, sendo seu pior desempenho nacional, ele se afastou da cena política e chegou a anunciar que não concorreria mais a cargos eletivos. A promessa, porém, perdeu força nos últimos meses, à medida que ele retomou a agenda pública e passou a se reaproximar da política cearense.
Ciro Gomes tem 67 anos e construiu uma trajetória marcada por múltiplas passagens partidárias. Além de ter sido governador, foi ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e ministro da Integração Nacional no governo Lula. Disputou a Presidência da República em 1998, 2002, 2018 e 2022. Também já exerceu mandatos de deputado estadual, prefeito de Fortaleza e deputado federal.
Caráter regional
Aliados afirmam que o ex-ministro pretende reorganizar sua base a partir do Ceará, apostando na lembrança do período em que governou o estado e no discurso de reconstrução política. A candidatura ao governo em 2026 é dada como provável, com o objetivo de interromper a sequência de administrações petistas, iniciadas com a eleição em 2014 de Camilo Santana, atual ministro da Educação.
Na cúpula tucana, a filiação de Ciro é tratada como um gesto de caráter regional, sem planos imediatos de candidatura presidencial. Ainda assim, pesquisas recentes o incluem entre os nomes lembrados para a disputa nacional. Levantamento Genial/Quaest divulgado no início de outubro mostra que Ciro, que disputou as duas últimas eleições presidenciais pelo PDT, é o único opositor que perderia para Lula por menos de dez pontos em um eventual segundo turno, com vitória do presidente por 41% a 32%.
O gesto também dialoga com o tabuleiro nacional. Em agosto, Ciro participou do lançamento da Federação União Progressista, que reúne União Brasil e PP. No evento, foi citado e elogiado pelo presidente do PP, Ciro Nogueira, como uma figura que “pode ajudar a reorganizar a oposição no Nordeste”.