Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) abriu um flanco até então inesperado para os representantes das chamadas Big Four, o grupo das quatro principais auditorias em operação no país (Deloitte, E&Y, KPMG e PwC).
Na decisão inédita da Terceira Turma, a Justiça ordenou que a KPMG fosse responsabilizada por ter aprovado “sem ressalvas” as demonstrações financeiras do Banco BVA. Com base nas análises da auditoria externa, uma holding familiar do setor agropecuário comprou R$ 3,5 milhões em títulos de CDB do BVA, que sofreu uma intervenção do Banco Central meses depois.
O caso pode abrir precedentes para a apuração da conduta das auditorias externas PwC e KPMG no caso envolvendo as Lojas Americanas. Ambas as auditorias aprovaram reiteradamente os balanços da rede varejista na última década, até que, em janeiro de 2023, a empresa informou ao mercado a detecção de fraudes bilionárias causadas pela conduta de seus diretores.
Em questão de dias, a varejista solicitou sua recuperação judicial para sanear as dívidas. Esse conjunto de fatores fez com que as ações das Americanas evaporassem e milhares de investidores sofressem com as perdas.
A advogada Patrícia Punder (foto), que chegou a ser nomeada como perita forense no caso das Americanas, mas renunciou ao cargo antes de iniciar os trabalhos, classifica a decisão como compreensível. “O caso é inédito no Brasil, mas não é uma novidade de fato. Hoje, há muitos escândalos no mundo envolvendo sócios de auditorias que são ‘comprados’ pelas empresas”, apontou ela.
“Eu não ponho a minha mão no fogo por balanço nenhum de empresa. E eu leio todos das empresas que eu tenho investimentos, mas sei que tem uma grande margem de erro ali.”
Para ela, investidores que perderam dinheiro e se sentiram, de alguma forma, lesados por informações prestadas pelas auditorias no caso Americanas podem entrar com um pedido de indenização na Justiça, “se eles acharem que a forma como foi feita a auditoria teve falha ou que teve um conflito de interesse.
“Qualquer pessoa hoje pode entrar com ação contra qualquer empresa se desconfiar que o relatório da auditoria não está bom.”