O delegado aposentado da Polícia Federal Jorge Pontes avalia que o crime organizado e o PCC podem ter relação com a crise das bebidas adulteradas, que matou três pessoas em São Paulo. As vítimas foram intoxicadas por metanol, substância semelhante ao álcool comum, usada na adulteração de destilados como gin, uísque e vodka. Outras pessoas que ingeriram bebidas do tipo nos últimos dias foram internadas em estado grave. Uma mulher perdeu a visão.
“Estamos vivendo uma epidemia”, diz Jorge Pontes, delegado aposentado da PF e ex-diretor da Interpol. Afirmou Pontes:
“Tenho certeza de que o PCC está no setor de bebidas. Não só ele, como outras facções organizadas. A ausência do sistema de regulamentação convidou os criminosos para esse mercado”.
Assim como Jorge Pontes, a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) também enxerga possível relação do PCC e do crime organizado com os casos de intoxicação. Em nota divulgada nesse domingo, 28, a ABCF citou as operações que recentemente miraram a facção criminosa e sua atuação no mercado de combustíveis.
“Ao ficar com tanques repletos de metanol lacrados e distribuidoras e formuladoras proibidas de operar, a facção e seus parceiros podem eventualmente ter revendido o produto a destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores”, disse a entidade.
O delegado aposentado e a associação criticaram o desligamento, há nove anos, do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), sistema da Receita Federal que monitorava em tempo real a produção de cervejas, refrigerantes e águas.
O Sicobe foi desligado em 2016 sob o argumento de inviabilidade técnica e jurídica. Desde então, o TCU já determinou duas vezes a reativação, mas as ordens foram suspensas pelo STF.
“Esse desligamento abre portas para o crime tributário organizado. Primeiro entram os sonegadores, depois a pirataria e o contrabando, por fim a lavagem de dinheiro. O crime organizado se interessa em todas essas etapas”, afirmou Pontes, para quem “foi um erro de tratamento da Receita ter desligado o sistema”.
Já a ABCF disse em sua nota que, desde o desligamento do Sicobe, “os volumes de bebida falsificadas no país aumentaram muito, em bilhões de litros, bem como a sonegação fiscal advinda dessa atividade criminosa”.
Após a manifestação da associação, a Receita Federal se manifestou afirmando ser “falsa” a correlação.
“O controle de destilados, como vodka, gin, whisky etc. é usualmente feito pela utilização de selos, que não têm relação, nem se confunde com o SICOBE. O SICOBE controlava, preponderantemente, refrigerantes e cervejas”.