Um vídeo divulgado pelo PT para defender mudanças no sistema tributário reacendeu a retórica do “nós contra eles” no debate político. A peça, veiculada na semana passada nas redes do partido, defende a chamada “taxação BBB” — bilionários, bancos e bets (casas de apostas) — como forma de bancar a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Em resposta, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e a federação União Progressista lançaram suas próprias versões, com ataques ao que classificam como o inchaço do Estado e o peso da máquina pública.

Apesar de compartilharem a mesma estética, com animações feitas com inteligência artificial, metáforas visuais de sacos de impostos, trabalhadores e balanças, os vídeos revelam diagnósticos opostos. Para o PT, o sistema tributário é injusto e precisa ser reequilibrado. Para os adversários, o problema está no tamanho do Estado e nos gastos elevados que, segundo eles, recaem sempre sobre a população comum. A oposição tenta deslocar o centro do debate: não se trata de taxar ricos, mas de conter o governo.

A ofensiva digital acontece em um momento em que a agenda econômica do governo enfrenta resistências no Congresso. O fato mais marcante foi a derrota na tentativa de aumentar o IOF sobre operações de câmbio.

A peça do PT é uma tentativa de retomar o controle da narrativa, transformando uma discussão técnica — a compensação para a nova faixa de isenção do IR — numa disputa política. O partido volta a recorrer à lógica que marcou suas campanhas mais bem-sucedidas: a ideia de que há um conflito entre elites e povo, ricos e trabalhadores. Ao adotar esse enquadramento, mira não só nos adversários declarados, mas também nas resistências internas à sua agenda.

A resposta de Zema veio em tom direto. No vídeo publicado pelo governador mineiro, o foco está no “peso do Estado”. A peça mostra elementos animados como sacolas de impostos e uma balança. Defende a redução da máquina pública como caminho para aliviar o bolso da população e sugere que, em vez de criar novas cobranças, o governo deveria cortar privilégios e enxugar despesas. “Mais um blá-blá-blá do governo Lula sempre mentindo pra você”, diz um trecho.

O vídeo da federação União Progressista reforça esse enquadramento, mas com ênfase no que chama de “apadrinhamento da companheirada”. A crítica mira a estrutura do governo Lula e é apresentada com estética semelhante à peça do PT, usando inteligência artificial e metáforas. As duas legendas da federação integram a base governista e expõem um incômodo interno: o custo político de sustentar um governo que, segundo eles, gasta muto e entrega pouco.

Mais do que um embate sobre impostos, a sequência de vídeos ilustra uma disputa pelo controle do discurso em torno da economia e antecipa os contornos da pré-campanha de 2026. A pergunta que paira é menos sobre quanto se arrecada e mais sobre quem paga a conta — e quem lucra, politicamente, ao apontar o culpado.

A ofensiva já foi de bonés
No dia 1º de fevereiro de 2025, aliados do presidente Lula – entre eles o ministro Alexandre Padilha e o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues – surgiram no Congresso usando bonés azuis com a frase “O Brasil é dos brasileiros”, idealizados por Sidônio Palmeira. O símbolo foi claramente pensado como resposta ao boné vermelho “Make America Great Again”, que o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) usou antes para celebrar a posse de Donald Trump.

No dia seguinte, a oposição respondeu com bonés das cores da bandeira do Brasil estampando “Comida barata novamente – Bolsonaro 2026”. A polarização ganhou força quando Lula incorporou o boné azul em vídeo publicado em suas redes sociais.