No final da manhã da sexta-feira, 27, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) compareceu à Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, em São Paulo, para falar a uma plateia formada por estudantes, ex-alunos e acadêmicos do mundo jurídico. O tema da apresentação foi “Juventude, democracia e novos caminhos para a política no Brasil”. Tanto pelo assunto abordado quanto pelo local da palestra, o comandante da economia do país se encontrava em um ambiente familiar.

Haddad cursou direito no Largo do São Francisco na década de 1980. No tempo de estudante, iniciou a militância política e entrou para o PT. Há exatos 40 anos, presidia o Centro Acadêmico XI de Agosto, a mais tradicional entidade representativa do movimento estudantil brasileiro e organizador da palestra de sexta-feira. Nesse papel, em 1985, participou ativamente de campanhas pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte, e organizou atos públicos com personagens relevantes na redemocratização do país, como o jurista Goffredo da Silva Telles e o advogado Márcio Thomaz Bastos, mais tarde ministro da Justiça nos primeiros mandatos de Lula.

O retorno ao Largo de São Francisco quatro décadas depois desses fatos teve um peso especial pelo momento delicado vivido por Haddad em Brasília. Cerca de 40 horas antes, na noite de quarta-feira, 25, ele sofreu uma derrota marcante no Congresso com a derrubada do decreto que aumentava alíquotas do IOF. O esforço feito durante semanas pelo governo, liderado por Haddad, para negociar com a cúpula do Legislativo foi aniquilado pela força do Centrão.

À procura de uma rota
Com certa ironia, a busca de caminhos para a política, tema da palestra, era oportuna para Haddad. A volta ao berço da militância, de certa forma, simbolizou a procura de uma rota para atravessar as adversidades enfrentadas pelo governo, particularmente na economia. A presença na faculdade de direito também representou, para o ministro, uma oportunidade de recarregar as baterias consumidas em sorrisos, apertos de mãos e declarações otimistas depois das reuniões com a cúpula do Congresso.

Na palestra, Haddad deu sinais do rumo que pretende seguir. “Não é um momento político para se recolher”, afirmou. “Agora é hora de vestir o uniforme do embate, do bom debate público, do debate político, da disputa por ideias, por futuro, com as nossas armas, que é o conhecimento, a empatia, o bom senso”, continuou o ministro.

Haddad também disse que as forças progressistas devem se reapresentar para o mundo com um projeto social, reforçando a narrativa da bandeira da esquerda contra a da direita. Em outro trecho, retomou o discurso de justiça fiscal que repetiu nas últimas semanas em reuniões e entrevistas. “Quem vai pagar essa conta? Em geral, é o salário mínimo, é o aposentado, é o servidor público, é o pessoal da periferia”, disse o ministro. Em seguida, apontou a direção que pretende tomar: “Vamos corrigir essas contas, mas vamos chamar o dono da cobertura para pagar o condomínio”. Nessa trilha, até agora, o ministro não conseguiu avançar.