Curiosamente, dias após os Estados Unidos anunciarem um tarifaço contra produtos brasileiros, foi a vez da Venezuela decidir, em silêncio, impor uma tarifa sobre exportações do Brasil — sem aviso oficial ou justificativa pública até o momento. A cobrança foi percebida por representantes locais, ao emitir os documentos necessários à exportação via sistema eletrônico.

A medida afeta diretamente as relações comerciais entre Roraima e o país vizinho, já que a Venezuela é responsável por mais de 70% das exportações locais. O estado da região norte é hoje o principal estado exportador para a Venezuela, com destaque para itens como margarina, farinha de trigo, cana-de-açúcar e cacau.

Em nota, o governo de Roraima informou que acompanha “com preocupação” a elevação da alíquota, alertando para os impactos sobre a competitividade das mercadorias brasileiras, o setor produtivo do Estado e a arrecadação. O governo estadual afirma estar em contato com o Itamaraty, o Ministério da Fazenda e outros órgãos federais em busca de esclarecimentos e de alternativas diplomáticas.

Em paralelo, a Fier (Federação das Indústrias de Roraima) também abriu apurações internas e tenta entender as dificuldades na aceitação dos certificados de origem por parte de Caracas. O objetivo é buscar esclarecimentos e “soluções rápidas que visem à normalização do fluxo comercial bilateral”, segundo nota oficial.

O governo brasileiro ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas a expectativa é de que o governo brasileiro cobre explicações formais de Caracas e avalie acionar os mecanismos de solução de controvérsias previstos no âmbito da Aladi (Associação Latino-Americano de Integração).

Pego de surpresa, Itamaraty busca informações
O Itamaraty informou que, em coordenação com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), tem acompanhado os relatos sobre entraves enfrentados por exportadores brasileiros na Venezuela. Segundo a pasta, a Embaixada do Brasil em Caracas está em contato com autoridades locais para esclarecer a situação e buscar a normalização do comércio, que é regido pelo Acordo de Complementação Econômica nº 69, o qual proíbe a cobrança de imposto de importação entre os dois países.

Lula e Maduro
A relação dos dois presidentes latino-americanos tem sido de altos e baixos. Lula chegou a defender a volta da Venezuela ao cenário internacional, mas passou a cobrar mais transparência após as eleições no país vizinho, em 2024.

O clima piorou quando o Brasil vetou a entrada da Venezuela no grupo dos Brics. Maduro reagiu mal, criticou o governo brasileiro e chegou a tirar o embaixador de Brasília. A representação diplomática foi restabelecida depois, mas os dois países seguem numa relação distante, marcada por desconfiança e protocolos formais.