O Brasil começa a semana embalado pelo Oscar, inédito, conquistado por “Ainda estou aqui”, melhor filme estrangeiro na premiação de 2025. A vitória da produção dirigida por Walter Salles consagra o cinema nacional no circuito externo e reforça a agenda da defesa da democracia no país. A visibilidade dada pela película ao arbítrio impune dos Anos de Chumbo repercute na pauta do Supremo e do Congresso.
Depois do Carnaval, as pautas relacionadas à proteção ao Estado de Direito ganham destaque nos três poderes, junto com temas urgentes para o governo, como a liberação de emendas parlamentares, a votação do Orçamento de 2025 e as propostas da área econômica - caso da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que deve ser enviada ao Congresso ainda este mês.
Nesse sentido, o sucesso de “Ainda estou aqui” esvazia de imediato o projeto que anistia os condenados pela tentativa de golpe de 2023. Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, comemoraram nas redes o prêmio em Los Angeles, gestos que desencorajam as iniciativas que buscam perdoar os responsáveis pelo 8 de janeiro.
O assunto é atual no STF. Nesta quinta-feira, 6, termina o prazo para a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos outros 33 acusados pela tentativa de golpe contra a posse de Lula. Em relação à ditadura, o Supremo recentemente decidiu que vai reabrir a discussão sobre a punição dos responsáveis por crimes permanentes, como a ocultação de cadáver. O filme foi lembrado nos debates entre os ministros.
Com aval do Supremo, acordo sobre liberação de emendas deve destravar pauta do Congresso
O STF concluirá na próxima quinta-feira, 6, o julgamento virtual que vai homologar o plano de trabalho apresentado pelo Congresso para a liberação de emendas parlamentares suspensas por não cumprirem os critérios de transparência e rastreabilidade previstos na Constituição.
O Supremo formou maioria favorável ao formato proposto pelas mesas diretoras da Câmara e do Senado.
Com a aceitação do acordo, a expectativa em Brasília é que o Congresso destrave as votações de assuntos de interesse do Planalto, principalmente, a aprovação do Orçamento de 2026, atrasado desde dezembro do ano passado. Pelo cronograma do relator, senador Angelo Coronel, a Comissão Mista de Orçamento, discutirá e votará a peça orçamentária nos dias 11 e 18 de março.
Para o governo, a regularização dos repasses das emendas, autorizados pelo STF, vai ajudar na retomada dos trabalhos legislativos, fundamental para o avanço das pautas do Planalto. Sem a suspensão dos bloqueios dessas verbas, o Congresso funcionou em marcha lenta em fevereiro.
Um pouco de suspense na reforma ministerial
A escolha da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, para a SRI (Secretaria de Relações Institucionais) surpreendeu o meio político e, pode-se dizer, jogou um pouco de suspense na reforma ministerial. Ao optar pela petista, Lula fechou para o Centrão a porta de um cargo dentro do palácio, estratégico para o governo, sobretudo nas negociações com o Congresso.
O movimento do presidente contribuiu para aumentar a curiosidade sobre as próximas mexidas na equipe, necessárias para a composição da base parlamentar. Até agora, Lula deu cargos apenas para petistas - além de Gleisi, Alexandre Padilha foi deslocado da SRI para o Ministério da Saúde.
As atenções se voltam, portanto, para os próximos passos: quais espaços Lula reservou para o Centrão e outros aliados; como as mudanças vão impactar nas relações políticas; e de que forma a nova configuração vai interferir nos acordos para as eleições de 2026.
Na briga entre Trump e Zelensky, como sempre, deve-se esperar cautela do Itamaraty
O encontro na Casa Branca na semana passada entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, surpreendeu o mundo pela agressividade do americano sobre o visitante. A postura de Trump significou uma guinada histórica na política externa dos Estados Unidos e provocou reações fortes no cenário externo, principalmente na Europa.
No fim de semana, líderes do continente manifestaram apoio a Zelensky. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que a Europa precisa se rearmar para se defender da Rússia.
No Brasil, deve-se esperar cautela do Itamaraty na condução desse caso, dentro da tradição diplomática brasileira. O Ministério das Relações Exteriores mantém a posição de neutralidade desde o início da Ucrânia e se coloca como um possível ator nas negociações de paz. Lula se manifestou sobre o caso no sábado. Disse que Zelensky foi humilhado por Trump e que a União Europeia foi prejudicada no episódio. "Desde que a diplomacia foi criada, não se via uma cena tão grotesca, tão desrespeitosa como aquela que aconteceu no Salão Oval da Casa Branca", afirmou o presidente brasileiro.