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PSOL em crise por causa de demissão de economista

Parlamentares ligados ao grupo majoritário no partido, próximos ao governo, dizem que assessor fez ataques públicos à direção. Glauber Braga ameaça deixar a legenda

Guilherme Boulos, deputado federal pelo PSOL
Foto: Reprodução

Oito parlamentares do grupo “PSOL de Todas as Lutas”, que hoje dirige o partido, afirmaram em nota que a demissão do economista David Deccache da assessoria da liderança da legenda na Câmara dos Deputados não foi motivada por divergência política. No texto, os deputados sustentam que o economista foi demitido por fazer ataques públicos a parlamentares e à presidente do partido, Paula Coradi.

A demissão de Deccache, revelada pelo PlatôBR nesta quinta-feira, 6, gerou uma crise na legenda. Desde então, dirigentes do PSOL têm trocado críticas e ataques em entrevistas e postagens nas redes sociais.

O afastamento de Deccache, doutor em economia pela UnB (Universidade de Brasília), teria ocorrido, segundo membros do partido, por causa de críticas do assessor à política econômica do governo e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A bancada do PSOL na Câmara está dividida na avaliação da política econômica do governo. A decisão de afastar Deccache foi tomada em votação da bancada na quarta, 5. O resultado final foi 8 a 5.

Os oito deputados que assinam a nota com as justificativas do PSOL, todos apoiadores do governo Lula, são os mesmos que votaram a favor do afastamento de Daccache: Guilherme Boulos, Luciene Cavalcante, Erika Hilton e Ivan Valente, de São Paulo; Henrique Vieira, Talíria Petrone e Tarcísio Motta, do Rio de Janeiro; e Célia Xakriabá, de Minas Gerais.
Votaram contra o afastamento do economista Sâmia Bomfim e Luiza Erundina, de São Paulo; Chico Alencar e Glauber Braga, do Rio; e Fernanda Melchionna, do Rio Grande do Sul.

Esses cinco parlamentares estão mais alinhados às correntes de esquerda do PSOL e têm críticas à política econômica do governo. Por causa dessa decisão, o deputado Glauber Braga cogita até deixar o partido. “Qual é a diferença daquilo que foi realizado pelo David do que eu também realizo como parlamentar?”, questionou Braga em uma live.

Já os deputados que defenderam a demissão afirmaram ser “inadmissível que alguém que trabalhe para a bancada ofenda deputados, deputadas e a direção do partido nas redes sociais, com caracterizações como ‘oportunistas’, ‘covardes’ e ‘mentirosos’”. A nota diz ainda ser “mentira” que Daccache não tenha sido ouvido antes do desligamento.

“Em dezembro, dois parlamentares, de maior relação e trânsito com o assessor, foram designados pela líder da bancada para dialogar com ele, e os ataques públicos persistiram. A natureza jurídica do cargo no qual David está nomeado é de indicação política, o que significa que ele exerce função de confiança. A partir do momento em que um assessor neste cargo ataca a representação política que o indicou, se cria um conflito ético-profissional, o que inviabiliza sua continuidade nesse papel”, afirma o comunicado do PSOL.

Para os oito parlamentares do grupo majoritário na direção, “a questão de fundo da polêmica que um grupo do partido quer criar, fazendo debate interno de maneira pública e desrespeitosa, é a tentativa de jogar o PSOL na oposição ao governo Lula”. A maioria do partido, 67%, decidiu apoiar Lula, lembrou o grupo “PSOL de Todas as Lutas”.

“Nas últimas eleições, o PSOL decidiu, por ampla maioria de sua militância, apoiar Lula, entendendo o risco que o bolsonarismo representa para o país. Um grupo minoritário defendia uma candidatura própria para marcar a posição do partido. Passadas as eleições, nossa bancada decidiu compor a base do governo, representando a posição de 67% do Congresso partidário, para contribuir com o processo de reconstrução e derrota da extrema direita”, diz a nota.

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