Com desemprego na mínima histórica e aumento da renda, o consumo das famílias brasileiras tem ajudado a girar a economia. A poucos dias da última reunião do ano do comitê que define a trajetória dos juros no país, o Copom, levantamento do IBGE mostra que o nível de atividade econômica aumentou 0,9% no terceiro trimestre de 2024 e foi puxado, principalmente, pelo consumo dos brasileiros, de um lado, e pelo setor de serviços, do outro.
Apesar de positivos, os dados alertam para o risco de descontrole na inflação, que já ronda o teto da meta e foi o principal motivo para o BC iniciar um ciclo de alta dos juros. A expectativa de analistas do mercado financeiro é que o IPCA, índice referência para a condução da política monetária, encerre 2024 em 4,71%, acima, portanto, do valor máximo previsto para o ano, que é de 4,5%.
Não à toa, na última semana, o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, alertou que o cenário atual exige uma postura mais rígida em relação à taxa de juros e sinalizou que o ciclo de alta pode ser maior do que o esperado em setembro, quando o BC começou a subir a taxa Selic.
Do lado da oferta de bens e serviços, o crescimento do setor de serviços merece atenção por dois motivos em especial: i) responde mais rapidamente às mudanças na renda e na demanda e pode impulsionar os preços mais rapidamente e ii) envolve despesas essenciais como saúde, educação e transporte, que têm impacto direto no custo de vida das famílias.
Além disso, é preciso considerar que uma característica das despesas no setor de serviços é o fato de que não são facilmente substituídos pelas famílias. Na prática, muitos serviços acabam sendo consumidos independe de altas no preço, elevando o risco de pressões inflacionárias. As pessoas não costumam trocar, por exemplo, o salão onde cortam o cabelo porque o preço subiu.
O setor impacta, também, a expectativa de inflação futura, ajudando a impulsionar um ciclo vicioso. Esse desempenho da economia ainda não reflete a alta recente dos juros promovidas pelo BC. Elevações nos juros têm um efeito defasado na economia real de até 18 meses. Dessa forma, espera-se que crescimento econômico desacelere nos próximos trimestres.
Gastos do governo e investimentos
Os gastos do governo também subiram (0,8%) entre julho e setembro, mas num ritmo ligeiramente menor do que o trimestre anterior. E, apesar de o governo ter lançado um pacote com cortes de gastos para o ano que vem, ainda há muita incerteza no mercado financeiro em relação à capacidade de as medidas gerarem, de fato, a economia anunciada pelo governo. Para fazer o corte de gastos, o governo ainda precisa negociar com o Congresso e aprovar as medidas.
A ministra Simone Tebet (Planejamento) disse, em suas redes sociais, que o crescimento do terceiro trimestre “mostra que o país está produzindo cada vez mais, gerando renda e emprego. Ela enfatizou ainda que “com medidas que promovam o equilíbrio das contas públicas vamos fortalecer a economia e garantir que as conquistas perdurem. É o Brasil avançando com trabalho e responsabilidade fiscal”.
Um dado positivo no levantamento do IBGE e comemorado dentro da equipe econômica é que os investimentos aumentaram 2,1%, sinalizando que há resposta da economia brasileira para atender à maior demanda das famílias. Os investimentos retomaram “taxas positivas no acumulado de quatro trimestre, após quatro quedas consecutivas”, destacaram análises internas do governo.
A produção industrial também teve alta de 0,6%, no período. Importante destacar a queda de 0,9% no setor agropecuário e de 0,6% nas exportações de bens e serviços. As importações subiram 1% no período. Com o desempenho registrado no terceiro trimestre, a expectativa é que a economia encerre 2024 com crescimento em torno de 3,5%, valor bem superior ao 1,5% projetado pelos analistas no início do ano.
Em nota da Secretaria de Política Econômica, os técnicos do Ministério da Fazenda destacaram que “a política monetária mais contracionista deverá restringir o ritmo de expansão das concessões de crédito e dos investimentos”.
No entanto, para eles, “ainda assim, impulsos positivos devem vir do mercado de trabalho, que deverá seguir resiliente, estimulando a produção e o consumo das famílias”.
Para 2025, avaliam, há uma “boa perspectiva para setores menos cíclicos, como a agropecuária e a produção extrativa”. Com isso, eles esperam que “o bom desempenho dessas atividades deve ajudar a mitigar a desaceleração esperada para as atividades cíclicas, mais impactas pelo aumento dos juros e pelos menores estímulos fiscais”.