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Desgastado, Haddad perde fôlego como plano B para 2026

Inflação, fogo amigo dentro e fora do governo e rótulo de "Taxad" enfraquecem possível candidatura do ministro do Planalto caso Lula não tente a reeleição

Ministro Fernando Haddad
Foto: Washington Costa/MF

No momento em que o governo está com popularidade derretendo e a candidatura do presidente Lula à reeleição é incerta, o ministro Fernando Haddad (Fazenda), teoricamente o plano B do PT à sucessão presidencial, enfrenta a fase mais delicada no cargo até agora. Ao mesmo tempo, o enfraquecimento de Haddad, que se consolidou como o ministro mais forte nos dois primeiros anos da gestão Lula 3, é conveniente para parte do poder em Brasília que disputa, nos bastidores, espaço político no tabuleiro das eleições de 2026. Mas o que pode ser favorável na política faz estragos na economia. Afinal, desacreditar Haddad não melhora as avaliações do presidente Lula, não ajuda no controle da inflação, das contas públicas, nem melhora o desempenho econômico.

Tradicionalmente, o ministro da Fazenda não é um cargo popular. Dos últimos 30 anos, dos doze ocupantes do cargo, quatro deles tinham pés na política (Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, Antonio Palocci e Henrique Meirelles) e, à exceção de FHC, nenhum outro teve sucesso como político após a passagem pela Fazenda. Ao contrário de seus antecessores, Haddad já chegou no cargo como um provável sucessor de Lula. Aos 62 anos, o pupilo 01 do presidente tem na economia um trampolim para voos maiores, ou um peso que pode limitar o sonho com a Presidência.

A amigos o ministro já teria confessado que só sairia candidato à sucessão de Lula se tivesse chances reais. Dentro do governo, porém, nega que seja candidato ao mesmo tempo em que mapeia os entraves internos que precisaria superar no seu partido para avançar numa candidatura. Um deles tem nome e sobrenome e um cargo importante entre os petistas: Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Apontada como possível nova ministra da Secretaria-Geral da Presidência da República na reforma ministerial em gestação no governo, Gleisi é crítica da política fiscal do ministro e, em outubro do ano passado, chegou a dizer que Haddad deveria concorrer ao Senado por São Paulo em 2026. “Seria um excelente nome”, disse ela.

No final de 2024, pesquisas de opinião realizadas pela Quaest apontaram Haddad como o nome da esquerda em 2026, caso Lula decida não se candidatar à reeleição, cenário que ganhou força em Brasília na virada do ano. Na época, a pesquisa foi comemorada por técnicos do ministério. Na última sexta-feira, 14, em entrevista à Rádio Clube do Pará, o próprio presidente colocou na mesa a possibilidade de não sair candidato. “Se eu tiver com 100% de saúde, energia que tenho hoje (vou me candidatar)”, disse. “Se eu estiver legal e achar que eu posso ser candidato… Mas não é minha prioridade agora. Eu quero governar em 2025.”

A virada
A maré favorável ao ministro da Fazenda, no entanto, virou à medida que seu nome se fortalecia como potencial sucessor. O pacote com medidas para controlar a dívida pública enviado ao Congresso em dezembro, após meses de debate interno no governo, abalou um dos pilares do ministro: a interlocução com o mercado financeiro.

Haddad saiu desse episódio com a imagem de um ministro da Fazenda incapaz de influenciar internamente o governo e o PT em pontos importantes para o equilíbrio das contas públicas. Foi o caso da desvinculação das verbas para educação e saúde do crescimento das receitas do governo e a limitação desses gastos ao teto de crescimento real de 2,5% fixado do arcabouço fiscal.

No início deste ano, a marca de “ministro fraco” foi publicamente expressada por Gilberto Kassab, presidente PSD, partido da base do governo, em evento com o mercado financeiro, em São Paulo. Haddad verbalizou o que já se comentava nas mesas de operação da Faria Lima. A oposição já vinha se aproveitando do momento ruim e vinculando a imagem de Haddad a notícias falsas que varreram as redes sociais, incluindo as que tratavam da cobrança de impostos nas transações com Pix. Todas com poder de desgaste eleitoral.

Os eventos, na verdade, foram sequência de outros iniciados em 2024 e que não mereceram muita atenção do ministro. Foi o caso do movimento no primeiro semestre de 2024 que associou o nome do ministro à figura de cobrador implacável de impostos. Taxad ou Zé do Taxão foram apelidos que circularam no auge das discussões sobre cobrança de impostos sobre cerveja e nas compra em plataformas internacionais como Shein e Shopee. “Esse é um passivo que ficou injustamente na conta do ministro”, desabafa um colega de governo.

Fogo amigo
Neste início de 2025, Haddad enfrenta ainda o "fogo amigo". Na última semana, uma pesquisa Datafolha mostrou que a popularidade do presidente Lula é a pior de todos os seus três mandatos (24%) e a reprovação atingiu níveis recordes (41%). No topo da lista dos motivos elencados pelo governo estão: i) na alta da inflação, especialmente dos alimentos e ii) os ruídos de comunicação, que além de não fazerem chegar à população os feitos do governo, ainda misturam fake news circulando com grande engajamento nas redes sociais e confundindo o eleitorado.

“O ministro assumiu um tom de campanha recentemente, entrou num discurso que tenta comparar com o governo anterior, mas ele precisa focar nos feitos dele”, avalia um interlocutor oficial. “Porque ele não pode mostrar que a realidade hoje é melhor na gestão anterior”, rebate um técnico do governo.

Epicentro da queda
Independente da postura adotada, é fato que o ministro se encontra no epicentro dos motivos que, dentro do governo, estão por trás da queda de popularidade de Lula. Isso, inclusive, teria sido registrado em reunião com núcleo político mais próximo do presidente no último final de semana.

Ao contrário do já que ocorreu no passado recente sob o PT, em que erros de governo foram facilmente transferidos exclusivamente para o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, Lula agora tem mais dificuldade para concentrar em Haddad a culpa pelas mazelas do país por ter forte vinculação com o ministro. O mesmo ocorre com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que Lula elogiou publicamente diversas vezes.

De quem é a culpa?
As declarações recentes do presidente da República para se contrapor à alta de preços reforçam a constatação. Primeiro, Lula pediu para população evitar comprar produtos que estão mais caros. Depois, chegou a dizer que a Petrobras deveria vender combustível mais barato para grandes empresas, como forma de garantir preços menores. Enquanto internamente se busca um culpado no governo, a população demonstra que, para ela, no fim de tudo, a culpa é do presidente.

Com isso, um ministro da Fazenda sem poder dentro do governo dificilmente conseguirá reverter o quadro econômico atual e gerar fatos positivos para o governo até 2026. Sem a economia como cabo eleitoral, a sucessão de Lula se complica, seja ele ou quem for o candidato.

O desgaste de Haddad abre espaço para especulações em torno de nomes que Lula poderia lançar para sua sucessão, caso desista de disputar mais um mandato. Nesse contexto, crescem as chances do vice-presidente, Geraldo Alckmin. Ele teria a vantagem de, por exemplo, ser visto como uma figura mais ao centro e de não ser o responsável pela inflação e pelos demais rótulos que a oposição procura colar no atual ministro da Fazenda.

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