“Despaixão”, o livro de estreia da psicóloga paulista Paula Lopes Ferreira, dá um nó no estômago. Com um texto que não perde o humor e a elegância, ele traz o sentido da dor e do renascimento de uma mulher acossada pela violência conjugal. A cena inicial diz tudo: a mulher se descreve morta, coberta de sangue e de enfeites de Natal, na sala de sua casa.

A autora fala de um casamento de dez anos em que o parceiro lhe tomou tudo, do dinheiro à esperança. E conta tudo com uma sinceridade atroz.

“Onde estava a minha pessoa? Encurralada, humilhada, exposta, me dei conta, um dia, de que me debatia refém, vivenciando um sequestro de alma. Não sei reconstituir com precisão os seus atos, que foram transformando tudo em destroços. Também não sei explicar como pude me manter sempre tão integralmente passiva. Ele foi tirando meu dinheiro aos poucos, docemente. Entreguei grande parte por vontade própria e o restante, ele me arrancou. Não satisfeito em dominar a parte financeira de minha vida, ele queria muito mais”, escreve ela.

Na abertura da obra, os editores avisam:

“O livro que você tem em mãos foi escrito por uma vítima da violência real, mas dissimulada e persistente, que costuma sufocar milhões de mulheres. Foi escrito por alguém que, a despeito de humilhações e dores permanentes, conseguiu transformar o que viveu em um texto desconcertante e único – muitas vezes bem-humorado – sobre os limites e peripécias da paixão.”

“Despaixão” sai pela editora Seja Breve no final de maio.