Ele não dá entrevistas. Raramente vai a eventos. Um colega do Palácio do Planalto disse que ele tem um “baixo perfil”, não teria “luz própria”, o que, no caso, não seria um defeito, mas sim o ideal para garantir a privacidade de seu assessorado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse é o perfil do chefe de gabinete do presidente, Marco Aurélio Santana Ribeiro, cientista político, 39 anos, conhecido como Marcola.

Há nove anos Marcola é o homem que cuida da agenda de Lula. Ele ficou muito mais próximo do presidente no período da prisão na Polícia Federal em Curitiba, entre 2017 e 2019. O presidente não usa telefone celular. O do seu chefe de gabinete, porém, não para de tocar. Todo o mundo o procura, sempre tentando chegar ao chefe. É quase impossível falar com o presidente sem passar por ele.

Janja, a mulher do presidente, eventualmente pode até ajudar. Mas a recomendação é que passe por Marcola. O apelido do assessor direto do presidente já gerou mal-entendidos, confusões e, inclusive, processos movido por ele contra adversários do PT e do presidente.

Ao falar com trabalhadores em um evento da CUT em abril de 2022, durante a campanha presidencial, Lula disse no discurso esperar que Marcola conseguisse espaço em sua agenda para visitar as cidades de Campinas, Osasco e Guarulhos, em São Paulo, e se encontrar com sindicalistas. Logo, começaram a circular nas redes sociais notícias falsas de que a figura citada seria o criminoso já condenado - e preso - Marcos Willians Herbas Camacho, o líder da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que tem o mesmo apelido. O então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, mandou remover as publicações na internet.

Associações entre o PT e a facção, a partir daí, foram feitas até em uma rede social do então presidente Jair Bolsonaro, em 2022. Voltaram a circular nas últimas eleições municipais. Marcola pediu uma indenização de R$ 20 mil, por exemplo, à campanha do prefeito eleito de Diadema (SP), Taka Yamauchi (MDB). Apoiadores do então candidato foram acusados de distribuir na cidade um panfleto apócrifo que falava de um suposto “repasse de recursos federais através do Marcola”.

Atencioso e detalhista”
Marcola nasceu em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo. É formado em Ciências Sociais na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), onde também fez o mestrado. Sempre foi muito politizado, dizem pessoas próximas. É muito discreto e “extremamente atencioso, nunca deixa a outra pessoa sem resposta”, diz o amigo e colega de governo Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário.

Ele não costuma viajar com o presidente. Fala ao menos dez vezes por dia com ministros, com os quais também despacha. No trabalho diário, Marcola conta com a ajuda do chefe de gabinete-adjunto, Osvaldo Malatesta, que trabalhou no Instituto Lula, como ele. Malatesta recebe inicialmente as demandas de audiência, reuniões e eventos, seleciona os pedidos e as decisões finais sobre a agenda cabem a Marcola e ao presidente.

“Ele é detalhista, tem muita paciência para analisar o que é relevante, importante”, diz um outro colega dele no Palácio do Planalto. A agenda de Lula é divulgada sempre no dia anterior.

Marcola trabalhou na administração do ex-prefeito de São Carlos (SP) Newton Lima, entre 2012 e 2013. No ano seguinte, foi para a Assembleia Legislativa de São Paulo, onde atuou como assistente parlamentar dos então deputados petistas Edinho Silva e Vicente Cândido.

Depois, passou pela escola de formação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, e pelo Instituto Lula, convidado pelo presidente da entidade, Paulo Okamoto. Vem daí sua amizade com líderes operários do ABC, entre eles Frei Chico, irmão de Lula e um antigo militante de esquerda.

Quando Lula esteve preso, Marcola virou um faz-tudo de Lula, em Curitiba. Cuidava da correspondência, levava as cartas. Selecionava artigos de jornais, revistas e sites, e levava livros pedidos pelo presidente. Também encaminhava cartas e recados de Lula a políticos e amigos. No período, Marcola passou a morar em Curitiba. Conheceu lá a sua mulher, Nicole Briones, jornalista, que trabalha na EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

Na campanha presidencial derrotada em 2018, ele trabalhou ao lado do ex-chefe de gabinete de Lula em seus dois governos anteriores, Gilberto Carvalho, hoje secretário nacional de Economia Popular e Solidária. “A gente é super amigo. Sou uma espécie de irmão mais velho dele que, ao longo da vida, fui dando sugestões e conselhos. Mas ele estava super preparado e credenciado pela trajetória e experiência”, disse Carvalho em entrevista ao PlatôBR.

Petistas dizem que Carvalho o preparou para ser o sucessor. O ex-chefe de gabinete de Lula nega. “Quem disse isso, falou para tentar descredenciá-lo. Mas ele é competente, tem os próprios méritos e todas as qualidades para a função”, afirmou Carvalho.