Mostrando aparente tranquilidade, a primeira reação do ex-presidente Jair Bolsonaro à ação da Polícia Federal nesta sexta-feira, 18, foi reforçar a narrativa de perseguição política que pautou as justificativas de Donald Trump para impor o tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos.
Além de se dizer humilhado e vítima no inquérito sobre a tentativa de golpe, ele apostou todas as fichas na intensificação da crise econômica entre o Brasil e os Estados Unidos ao se colocar como opção para resolver a crise e afirmar que o governo Lula não consegue conversar com Trump.
Bolsonaro falou a jornalistas logo após receber uma tornozeleira eletrônica por ordem do ministro Alexandre de Moraes. Ele também procurou se apresentar como vítima. “Suprema humilhação”, repetiu.
O ex-presidente trata como naturais os movimentos do filho Eduardo nos Estados Unidos com políticos e autoridades da gestão Donald Trump e, com isso, acaba endossando a tese de articulação da família com o governo americano para impor medidas contra a economia brasileira e que atentam contra a soberania nacional.
“Se eu fosse presidente, seria algo parecido com a Argentina: 80% dos produtos com tarifa zero”, disse, ressaltando que ele fala melhor com embaixadores do que o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) e que “se o governo tiver interesse, eu busco uma audiência com o presidente Trump”.
O discurso de Bolsonaro ignora qualquer lógica econômica que deveria embasar uma medida comercial que afeta as relações de 200 anos entre empresas privadas brasileiras e americanas e reforça as críticas contra eles por estarem agindo contra os interesses do país.
O governo brasileiro aguarda para saber se haverá alguma reação do presidente Donald Trump em relação à atuação da PF. Por enquanto, a estratégia é tentar separar a crise política da econômica. O próprio presidente Lula e os ministros palacianos estão na coordenação da frente política enquanto o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e o chanceler Vieira atuam nas negociações comerciais.