Recesso? Que nada! A semana foi agitada na política, com prenúncios de desfecho em vários assuntos que rondam os Três Poderes. Em todas as frentes, os olhares já estão voltadas para as eleições de outubro de 2026. Mesmo sem as chapas e alianças definidas, o pontapé inicial da campanha foi dado com bastante antecedência, e os políticos procuram marcar, desde agora, suas posições para a disputa do próximo ano.
Prisão só depois
As medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro (PL-RJ) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator no STF (Supremo Tribunal Federal) do processo que trata da tentativa de golpe, indicaram a disposição da corte de colocar o ex-presidente na cadeia. Havia dúvidas se seria por agora. Mas ao que tudo indica, ficará para depois da conclusão do julgamento, que deve ocorrer entre agosto e setembro. Por enquanto, nada de preventiva: após ameaçar prender Bolsonaro imediatamente, o ministro Moraes deu um despacho dizendo que entende que as medidas foram, sim, violadas, mas evitou mandá-lo desde já para a cadeia. Houve pressão de políticos e empresários junto ao STF com apelos para a corte não escalar as medidas neste momento, especialmente em razão da tensão comercial com os Estados Unidos. A futura prisão de Bolsonaro é, por si, um dos elementos cruciais da sucessão presidencial que está por vir.
Plano M
Mesmo com a inelegibilidade declarada pela Justiça Eleitoral, o ex-presidente vinha sendo tratado como possível candidato pelo PL. Impedido de usar suas redes sociais e de terceiros, obrigado a usar tornozeleira eletrônica e ficar em casa durante a noite e no fim de semana, o PL deu início a um esforço nas redes para inflar o nome da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL-DF). Ela ainda não é candidata, evidentemente, mas os investimentos do partido começaram. Michelle viajou ao Acre para reclamar, por exemplo, que falta uma ponte na cidade de Cruzeiro do Sul, sobre o Rio Juruá.
Iniciativas contidas
As tentativas de mobilização de Bolsonaro a partir do Congresso, com entrevistas replicadas nas redes sociais e movimentos barulhentos da bancada bolsonarista, convocando reuniões comissões em pleno recesso, foram contidos. Uma delas, a que envolvia pessoalmente o ex-presidente, esbarrou num pedido de explicações feito por Alexandre de Moraes aos advogados dele, com o alerta de que as medidas restritivas estavam sendo descumpridas e isso poderia resultar numa ordem de prisão. A outra iniciativa, dos parlamentares aliados, foi travada por um ato do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que proibiu reuniões durante o recesso. Os aliados de Bolsonaro também tentaram uma outra cartada, mas sem sucesso: não conseguiram mobilizar caminhoneiros e manifestações pelo Brasil.
Moraes no alvo
Sem apoio, senadores da ala mais radical do bolsonarismo falam agora em inflar no Senado os movimentos pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Eles incluíram também nos discursos a extensão da medida ao ministro Flávio Dino, nomeado por Lula. No STF, Dino é relator das ações contra a liberação indiscriminada de emendas parlamentares, um assunto que une as diferentes bancadas.
Reações ao tarifaço
O clima de campanha seguiu ao longo da semana também em relação às tratativas com os Estados Unidos em relação ao tarifaço ameaçado pelo presidente norte-americano, Donald Trump. Políticos de várias vertentes partidárias passaram a se mover no sentido de tentar resolver ou amenizar impactos do tarifaço, caso não haja um recuo de Trump. Governadores como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), anunciaram medidas como a criação de linhas de crédito especiais para exportadores. O governo federal também avança nesse sentido, com promessa do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de apresentar um plano na próxima semana ao presidente. Os apuros de Bolsonaro com a Justiça brasileira foram incluídos por Trump entre os motivos da taxação, na esteira da articulação liderada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que se mudou para os Estados Unidos para tentar uma reação internacional contra a prisão do pai.
Caravana a Washington
Nesta sexta, uma missão da Comissão de Relações Exteriores do Senado embarca para os Estados Unidos para mobilizar políticos e empresários e tentar fazer com que eles convençam Trump a desistir do tarifaço.
Modo 2026
Lula e Haddad subiram o tom contra a família Bolsonaro, estimulando a aposta do PT na polarização como um dos motores da disputa eleitoral do próximo ano. O objetivo é marcar a diferença entre “nós e eles”, segundo Lula. Em discurso, o presidente explorou a crise com Trump e o comportamento de Bolsonaro diante do risco de prisão, comparando com sua própria situação quando das investigações da Lava Jato. É uma receita que, para articuladores do Planalto, tem boas chances de ser exitosa do ponto de vista da comunicação para melhorar a imagem do governo e do presidente.