PODER E POLÍTICA. SUA PLATAFORMA. DIRETO DO PLANALTO

É a percepção, estúpido: a encruzilhada do governo, mesmo com dados positivos

Tão importante quanto quanto a realidade é como as pessoas a percebem. A máxima, segundo especialistas, se adapta à situação atual do governo que, mesmo com bons indicadores econômicos, é mal avaliado nas pesquisas

Lula com Fernando Haddad
Foto: Ricardo Stuckert/PR

“Não basta ser, é preciso parecer.” A frase atribuída ao imperador romano Júlio César realça a ideia de que a percepção que os outros têm é tão importante quanto a realidade. Na conjuntura atual, ela cai como uma luva para situação que o governo Lula enfrenta. Apesar de conseguir bons indicadores na economia, com crescimento acima de 3,5% ao ano, desemprego no menor nível, ganhos reais para o salário mínimo e programas sociais, o presidente é reprovado nas pesquisas de opinião.

“Lula está com a imagem machucada por todo seu passado de mensalão, Petrobras e ainda reforçou um discurso descolado do que a população queria ouvir”, avalia um consultor do mercado financeiro. “A inflação é um bode expiatório”, diz, destacando que a piora recente, com alta nos preços dos alimentos não justifica sozinha a piora na popularidade do presidente e na aprovação do governo. “O mau humor do mercado com o governo é grande e está expulsando Lula porque isso pega no preço dos ativos e piora a percepção das pessoas”, afirma, sob reserva, o diretor de uma grande consultoria.

Para os analistas, a falta de unificação do discurso dentro do governo também pesa na avaliação popular. “E o governo não para de mandar sinais contraditórios e levantar temas que pesam contra ele”, prossegue. Enquanto o ministro Fernando Haddad (Fazenda) prega compromisso com o equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação, a sua equipe trabalha com medidas que vão na direção oposta com impulso ao consumo e ao crescimento econômico, o que o Banco Central tenta conter.

Na lista estão estímulos a empréstimos consignados no setor privado, liberação de recursos do FGTS para quem optou por uma modalidade de saque gradual na data de aniversário e incentivo financeiro para estudantes, com o programa Pé- de-Meia.

Memória do petrolão
Na semana passada, na avaliação dos analistas, outro evento trouxe de volta comparações que relembram piores momentos da última gestão petista. O rombo de R$ 17 bilhões no resultado da Petrobras no último trimestre de 2024 não tem relação com os eventos que geraram os mais graves prejuízos na história da empresa em 2015.

A petroleira, segundo seus executivos, foi afetada pelo efeito da alta do câmbio em dezembro, quando a cotação da moeda americana chegou a bater em R$ 6,30. “Porém, ela é um símbolo para os brasileiros, que ainda têm muito forte na memória o desastre que foi 2015”, diz o economista-chefe de um grande banco.

O próprio presidente admitiu em evento público que a Petrobras “virou símbolo de corrupção” e culpou uma campanha feita pela “extrema direita” para destruir a imagem da empresa. “Tudo o que presidente não precisava era relembrar essas histórias”, diz o analista.

“É algo que não é mensurável, não entra nas pesquisas, mas o que está no imaginário coletivo pesa e há uma irritação com o passado da gestão petista que se reflete nessa queda das aprovações”, completa.

search-icon-modal