Para se amar, admirar ou odiar alguém, você precisa saber pelo menos duas ou três coisas importantes sobre esse alguém. De graça, sem nada contra ou a favor, o sentimento se perde, esfarela, vira pó e o vento leva.

Está na moda, ou na onda, como preferir, falar mal, criticar e azucrinar a figura de Eduardo Nantes Bolsonaro, nascido em Resende (RJ) em 10 de julho de 1984, deputado federal desde 2015, muito bem votado. Quase dois milhões de votos, doados pelos eleitores de São Paulo, que viram nele encantos nunca vistos em ninguém mais na disputa por uma vaga na Câmara.

Eleito e diplomado, tomou posse, ocupou o gabinete de número 785. Como manda o Regimento, passou a receber um saboroso salário de R$ 46.366,00, regalias e benefícios que todos os parlamentares têm direito, mesmo que não mereçam. Em benefício do Estado que o elegeu, nunca bateu um prego numa barra e sabão e ocupou apenas uma vez a tribuna da casa para falar a seus pares.

Do que disse, nem uma vírgula se aproveitou, e se apresentou algum projeto social ou de economia para o estado que o elegeu, ninguém se lembra nem registrou. Fez declarações polêmicas, todas elas calcadas em conceitos rejeitados pela sociedade civil responsável, e quase todas na mesma linha de condutas apregoadas pelo pai, Jair Messias.

Uma delas, desconexa e em desacordo com a história e a cultura do País, elogiou a implantação do Ato Institucional número nº 5 (AI-5), documento macabro que limitou, censurou e deixou marcas tenebrosas durante o regime militar, página infeliz da nossa história. Já filiado ao PL (Partido Liberal) foi eleito Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, onde também manteve suas lanternas apagadas. Também nessa função nada fez que o levasse a algum podium, sequer cortou fitas inaugurando exposições.

Desde de 2024, por vontade própria e temendo ação da justiça, se mudou de mala e cuia para os Estados Unidos, com os afagos generosos da própria Câmara, e de lá começou uma série de desatinos contra o governo federal e ministros do STF, afirmando ser amiguinho de Donald Trump e de seus assessores. Com o prazo de permanência nos Estados Unidos esgotado como parlamentar faltoso, Eduardo ganhou de presente da colega de partido, Caroline de Toni, o cargo de líder da minoria, função que daria a ele a condição de permanecer em solo americano.

Alertado pelo regimento, o presidente da casa, Hugo Motta, talvez contra a vontade, manifestou discordâncias. Quem, de alguma forma, acompanha com atenção e senso crítico o ambiente político que nos rodeia, deve estar observando a massacrante presença de Eduardo Bolsonaro na mídia nacional e internacional, sempre com conteúdo estressante, desagradável e de alguma forma gerando intranquilidade a adversários e, também, aos próprios aliados. Inquieto e provocador, atiça polêmicas e discordâncias familiares, irrita possíveis partidários e amigos, levando alguns a ele destinar adjetivos que nos levam a tirar as crianças da sala. Tudo muito estranho nesse mundo de faz conta que às vezes Eduardo deixa transparecer.

Pelo andar da carruagem, sua nervosa e destemperada movimentação não tem possibilitado a ele os ganhos esperados. Em atrito declarado com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de quem fala mal e dele tem ciúmes, atropela desejos e expectativas de partidários que sonham em ver Tarcísio subindo a rampa do Planalto. Bate de frente com as manifestações da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, a quem pouca admira.

O pastor Malafaia, cuja elegância verbal às vezes merece tarja preta, com frequência destina a ele elogios de fazer corar até os mais adeptos da literatura do baixo clero. E, como é sabido, suas últimas declarações e posições adotadas sobre o quadro político inauguram uma nova série de atritos entre ele e Jair Bolsonaro, já estropiado e combalido em todos os sentidos.

Esse é o momento atual de Eduardo Bolsonaro, estranhamente apregoando perspectivas de sucesso, se autoenganando como se fosse um aluno de curso médio, sonhando em obter uma média que o permita passar de ano. Incrível, e difícil de acreditar, como um político com amplas condições de progresso na carreira faça escolhas tão atabalhoadas para seu futuro, assumindo posições de atritos com o próprio espelho.

Culturalmente preparado, deveria valorizar o acolhimento que, mesmo sem merecer, acabou recebendo e ainda desfruta de razoável poder de liderança, fato que muitos que mais mereciam não conseguiram. Não é preciso ser especialista em política ou em comportamento social para, sem muito empenho, projetar o que espera o parlamentar caso insista nessa aventura descalibrada, alardeando o desprezo às nossas instituições.

É visível, e palpável, o ambiente tenso e nervoso que envolve todos os defensores da direita radical, tendo como integrante um aliado que mais separa do que une, e que busca o desequilíbrio ao invés de unir forças ao seu redor. à luz da razão, só ele não percebe que está fazendo palestras para auditórios vazios, acumulando discórdias entre os seus e, principalmente, se mostrando arredio a qualquer gesto que conduza à união de forças que o tenha como estrela principal.

Ao que tudo leva a crer, apenas Eduardo Bolsonaro ainda não entendeu que cava sua própria cova, caminha para um inevitável isolamento político e, caso aposte pra valer nessa investida, terá o desapreço e a obscuridade como companhia. Já faz tempo que planta e semeia ventos. Crescem a olhos vistos suas chances de colher tempestades.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais