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Em busca de credibilidade e com inflação em alta, BC sinaliza com juros maiores

Taxa Selic poderá chegar a 15% ao ano na próxima reunião do Copom prevista para maio, retomando patamar de 20 anos atrás. Preços persistem em alta, cenário internacional é incerto e expectativas do mercado não melhoram

Foto: Raphael Ribeiro/BC
Foto: Raphael Ribeiro/BC

Assim como São Tomé, o mercado financeiro quer ver para crer. Apesar de, nos dois meses e meio de gestão à frente do Banco Central, Gabriel Galípolo ter marcado uns pontos positivos, na avaliação de analistas, economistas e investidores, é a continuidade do ciclo de alta de juros a partir de maio que deverá chancelar a credibilidade da nova equipe do BC. O mercado já havia precificado novas elevações, projetando que a taxa referência para economia, a Selic, chegará a 15% em 2025. Mas a decisão cabe à equipe de Galípolo.

Nesta quarta-feira, 19, as incertezas começaram a ser dissipadas. O Copom (Comitê de Política Monetária) promoveu a terceira alta consecutiva de um ponto percentual, levando a Selic para 14,25% ao ano. Essa elevação encerrou a rodada de aperto monetário que havia sido anunciada em dezembro, durante a transição no comando da autoridade monetária de Roberto Campos Neto para Galípolo. O mercado ansiava por sinais sobre qual será a postura do BC a partir de agora.

A resposta veio de forma taxativa no comunicado divulgado no início da noite desta quarta-feira: “O Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”, diz a mensagem, numa referência à agenda do Copom prevista para os dias 6 e 7 de maio.

Além das incertezas vindas do exterior em função do impacto da guerra de tarifas desencadeada pelo presidente Donald Trump, pesaram na decisão do BC a resistência da inflação em ceder e, em especial, as expectativas dos agentes econômicos que estão desancoradas e mostram que há dúvidas sobre o compromisso dos diretores de levar o IPCA, índice oficial de preços, para a meta, de 3%.

Pesquisa realizada pelo Instituto Quaest com profissionais do mercado aponta que 45% desse grupo avaliaram como positiva a atuação de Galípolo como presidente do BC até aqui. No entanto, 58% disseram que é muito cedo para avaliar se ele está tomando as decisões técnicas ou políticas. O medo de interferência política no BC leva a interpretações de que a inflação pode ficar num patamar maior por mais tempo. No comunicado, os próprios diretores destacam que as expectativas para a inflação em 2025 estão em 5,7%.

“O BC está fazendo um trabalho para manter, pelo menos a política monetária, em linha com o que é necessário para a economia”, avalia o economista André Perfeito, ex-sócio da Necton Investimentos. Segundo ele, o BC deve elevar a taxa Selic em mais 0,75 ponto percentual na reunião de maio. “A inflação está persistente”, justifica.

Especialistas observam que juros na faixa de 15% ao ano, entre os maiores do mundo, são resultado de uma economia que cresce de forma acelerada, com desemprego em queda e estímulo à renda. Com isso, sobra o canal dos juros para tentar ajustar a economia. Se confirmada em maio alta de 0,75 ponto percentual, o Brasil retomará o patamar de juros registrado quase 20 anos atrás. Em maio de 2006, a Selic foi fixada em 15,25%.

Os efeitos da política monetária apertada desde o final do ano passado serão sentido ainda neste primeiro semestre, avaliam economistas. Nesse cenário, é bem provável que o país viva uma recessão técnica, quando há retração na economia por dois trimestres seguidos, segundo os analistas. Perfeito lembra que, desde o final do ano passado, a economia começou a desacelerar. O PIB no quarto trimestre de 2024 cresceu 0,2% em relação ao terceiro trimestre, e o consumo das famílias recuou 1%”.

Além disso, o alto endividamento dos brasileiros também é um problema que contribui para a retração e para o mau humor das pessoas com o governo. Dados do BC mostram que, da renda acumulada em 12 meses, 47% estão comprometidas com o pagamento de dívidas. Com os juros em alta, num ambiente de perspectiva de baixo crescimento, as avaliações das pessoas só pioram, avalia o economista.

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