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Em compasso de espera, Brasil calcula o momento de negociar com governo Trump

Diplomatas e integrantes do governo defendem postura comedida e entendem que o Brasil precisa abrir canais de negociação para evitar maiores impactos na economia

O presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump.
Foto: Flickr/Gage Skidmore

“Não se deve tentar apagar o fogo jogando gasolina.” A máxima tem pautado o comportamento da diplomacia brasileira diante das ameaças de taxação do presidente americano Donald Trump, em especial após o discurso desta semana no Congresso em que ele sinalizou que produtos brasileiros poderão entrar no próximo pacote de medidas tarifárias a ser anunciado por Washington.

Segundo um diplomata a par do assunto, “não houve novidade ou mesmo nenhum dado concreto” na fala, na qual Trump mencionou o Brasil como um dos países que aplicam taxas injustas aos produtos americanos. Por isso, avalia esse integrante do Itamaraty, “o Brasil deve monitorar o estilo, os movimentos e o conteúdo da estratégia americana” e manter uma postura cautelosa.

“A diplomacia exige paciência e isso não quer dizer falta de atitude ou de posição”, afirma uma fonte do governo. A postura é reforçada pelas avaliações do ex-embaixador do Brasil em Washington e Londres Rubens Barbosa. Ele diz que “ainda é cedo para falar em guerra comercial mundial”. “O que o que há são medidas pontuais, no caso do Brasil para aço e alumínio, e a promessa de uma rodada de medidas de reciprocidade”, resume.

Para o embaixador, o Brasil está certo em esperar, como estão fazendo vários outros países: "A Índia não abriu a boca. Tem que aguardar e negociar quando chegar a hora”. Até recentemente, alega o governo brasileiro, os Estados Unidos não tinham sequer um representante nomeado para as negociações porque o nome não havia sido aprovado no Congresso.

Ao priorizar o pragmatismo, o governo brasileiro não sinaliza omissão, defende Barbosa. “O que é preciso é abrir canais de negociação”, afirma ele. Antes disso, “não se deve provocar e nem aceitar provocações.”

Está prevista uma reunião por videoconferência do vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro Indústria e Comércio, com o secretário de Comércio da administração Trump, Howard Lutnick. A conversa deveria ter ocorrido semana passada, mas acabou adiada.

Apesar das preocupações em relação ao impacto que medidas mais extremas podem trazer para indústria brasileira, o Brasil e boa parte do mundo já apostam nos riscos para a própria economia americana. Movimentos como o anunciado pelo Canadá, de reagir com um tarifaço a produtos do país, podem pressionar a inflação interna, já que a economia americana não consegue produzir tudo o que consome e depende, em grande medida, de outros países.

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