De volta da viagem à Ásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou, na manhã desta quarta-feira, 29, uma reunião para tentar entender e tomar providências em relação à segurança pública no Rio de Janeiro, após a megaoperação ordenada pelo governador do estado, Cláudio Castro (União Brasil) nas comunidades do Alemão e da Penha, zona norte da capital. Interlocutores do governo avaliam a necessidade de uma intervenção na segurança nos moldes de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
De acordo com dados do governo, a operação deixou 64 mortos, mas a defensoria pública do Rio de Janeiro registra 132 mortos na mais letal ação policial ocorrida no estado. Na manhã desta quarta, moradores dos Complexos do Alemão e da Penha, recolheram e enfileiraram mais de 70 corpos na praça São Lucas, um ponto mais movimentado da comunidade.
A reunião de Lula ocorre no Palácio da Alvorada e estão presentes o ministro da Rui Costa (Casa Civil), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Macaé Evaristo (Direitos Humanos), Ricardo Lewandowski (Justiça), Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação), além do vice-presidente, Geraldo Alckmin, que deu início ao diagnóstico na terça-feira, 28, enquanto Lula estava no voo de volta para o Brasil após a viagem que fez à Asia.
Na noite de terça, Alckmin foi à Base Aérea de Brasília para repassar a Lula as primeiras informações sobre a operação e os desdobramentos políticos dela, iniciados pelo próprio governador, que não avisou o governo federal sobre a operação e que chegou a reclamar que não teve apoio da esfera federal para uso de blindados. Castro, inicialmente, tentou transferir a responsabilidade do caos na segurança pública para o governo federal. Depois, em conversa com a ministra Gleisi Hoffmann, ele teria dito que não teve essa intenção e que teria sito mal interpretado em suas falas.
Neste sentido, o governo já enxerga uma abertura para um diálogo com Castro para uma ação conjunta com o governo do Estado. Vale lembrar que a implantação de uma GLO depende também de um pedido do governador.
Apesar dessa perspectiva de diálogo, a politização do assunto já dá sinais de polarização e deve estar na pauta das eleições do ano que vem. Na manhã desta quarta-feira, o ministro Fernando Haddad (Fazenda), que dever disputar eleições em São Paulo em 2026, opinou sobre o assunto, acusando o governador de não contribuir com o combate ao contrabando de combustíveis, por exemplo, que, na visão do ministro, está na base do financiamento das organizações criminosas no estado.
“Nós, da Fazenda, estamos atuando forte no Rio de Janeiro contra o crime organizado, na minha opinião, da maneira mais eficaz, que é na questão dos combustíveis. Eu penso que o governador deveria nos ajudar em relação a isso. O governo do Rio não tem feito praticamente nada em relação ao contrabando de combustível que é como se irriga o crime organizado”, disse Haddad.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), possível candidato à Presidência da República, deve exonerar o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PP), para que ele retome temporariamente o mandato na Câmara dos Deputados para relatar, ainda em novembro, o projeto que equipara organizações criminosas a terroristas.
A proposta, que já teve sua urgência aprovada em maio deste ano, é do deputado Danilo Forte (União Brasil-CE) e estende a aplicação da lei antiterrorismo a organizações criminosas e milícias privadas e a aposta dos deputados de direita para tratar do assunto, em contraposição à PEC da Segurança Pública, que é prioridade do governo nessa área.
No Rio de Janeiro, o governador também chamou uma reunião com a cúpula da segurança para uma avaliação sobre a operação.
