Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca a abertura de novos mercados para produtos brasileiros na Ásia e tenta destravar as relações comerciais e diplomatáicas com o presidente Estados Unidos, Donald Trump, coube à Petrobras dar sua cota de contribuições positivas ao governo em uma semana de poucos avanços da pauta do Planalto no Congresso.
No front econômico, a petroleira anunciou na última segunda-feira, 20, uma redução de 4,9% no preço da gasolina, o que pode ajudar o Banco Central no objetivo de entregar uma inflação dentro do teto da meta, de 4,5%, no fim de dezembro. A decisão da estatal provocou uma onda de revisões no mercado nas projeções para o resultado do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que apontava para um estouro do objetivo central perseguido pela autoridade monetária.
No mesmo dia, a empresa também anunciou que obteve licença ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para pesquisar petróleo na foz do rio Amazonas. A notícia foi interpretada como um afago governista no presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), defensor da exploração da commoditie na região, que pode render o pagamento de royalties ao seu estado.
Alcolumbre tem feito campanha para que Lula indique um aliado, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para a vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) aberta com a aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso. Lula tem predileção pelo advogado-geral da União, Jorge Messias. A decisão do Ibama foi interpretada em Brasília como um gesto governista para agradar ao presidente do Senado.
Sorte e custos
Se a redução do preço da gasolina foi uma boa notícia da Petrobras para o governo, por contribuir para a queda da inflação, o preço do petróleo em baixa deixa de ajudar a equipe econômica com o recebimento de dividendos da estatal, afirmou o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.
“A empresa tinha expectativa de trabalhar com o preço do barril do petróleo em US$ 70 e isso tem um efeito sobre o caixa da empresa. Na prática, o pagamento de dividendos para os acionistas diminui, incluindo o governo”, disse.
Para além da boa notícia na pauta econômica, a decisão do Ibama em favor da Petrobras favoreceu o governo nas relações políticas com Alcolumbre, afirmou o cientista político Carlos Melo, professor do Insper. Segundo ele, Lula contou com a sorte nesse processo decisório, diante da proximidade do vencimento do contrato de aluguel da sonda à disposição da Petrobras que aguardava autorização do Ibama para iniciar os trabalhos.
“A Petrobras acelerou o processo para entregar todas as exigências do Ibama e o componente de sorte ajudou Lula [a fazer um afago no presidente do Congresso]”, disse.
Segundo Melo, o governo petista tem uma visão de estado muito forte e enxerga que a Petrobras é um braço auxiliar, enquanto o mercado defende o interesse dos acionistas minoritários.
“Se a empresa vai bem, tem grande distribuição de dividendos, ajuda a diminuir dívida. Se muda o preço do petróleo, diminui o preço dos combustíveis e ajuda a reduzir a inflação. Vamos viver uma contradição em relação ao que é defendido pelo mercado de tempos em tempos. E quem decide isso é o eleitor quando escolhe um presidente ou outro. É ele que decide os rumos da Petrobras”, disse Melo.
