NOVA YORK – De olho nas oportunidades de investimentos que se vislumbram diante da guerra comercial desencadeada pelo tarifaço imposto ao mundo pelo presidente Donald Trump, empresários brasileiros engrossam o coro do mercado financeiro por reformas para equilibrar as contas públicas e reduzir os juros. Durante a sequência de eventos que colocou o Brasil em evidência nesta semana em Nova York, o clamor por uma agenda de governo que abra caminho para atração de dinheiro externo para financiar obras, expandir e modernizar o parque produtivo ecoou como um mantra pelo centro financeiro de Manhattan no café da manhã, almoço e jantar.
O pano de fundo foi a taxa de juros no país, que na semana anterior teve nova alta, para 14,75% ao ano, e colocou o Brasil na terceira posição dos países com os maiores juros reais do mundo. “O Brasil está num num processo de envenenamento lento. Somos um país que aguenta desaforo, mas tudo tem limite”, desabafou ao PlatôBR o vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Leonardo Souza de Castro, um dos palestrantes do painel “Desbloqueando o Potencial Industrial Verde do Brasil: Aproveitando a inovação, políticas e capital para liderar a transição global”, promovido pela entidade empresarial em parceria com o jornal Financial Times (foto).
Segundo Castro, o Brasil é “definitivamente” líder do tema economia verde pela sua geografia e pelos recursos naturais, mas precisa de investimentos para avançar. Por isso, o empresário questiona como evoluir nesse caminho com a Taxa Selic, referência para os financiamentos produtivos, beirando 15% ao ano. “Como tenho payback num negócio desse? É uma loucura”, diz. “Estamos, de novo, nos condenando a perder oportunidades porque não temos capacidade de investimento”, completa.
O governo e o setor privado se movimentaram nas últimas semanas para tentar fazer da crise mundial, aberta com a política comercial protecionista dos Estados Unidos, uma chance de se destacar como destino de investidores, além de abrir mercados para produtos e serviços brasileiros. A viagem do presidente Lula à China esta semana foi pensada com esse objetivo. Toda a Esplanada dos Ministérios tem mapeado setores em que é possível avançar em negociações. O olhar dos empresários que integraram a comitiva da CNI em viagem aos Estados Unidos seguiu a mesma lógica.
Oportunidades
“Para todo lugar que a gente olha, pensa: ‘tem oportunidade, tem oportunidade, tem oportunidade'”, afirma Castro. “Nessa agenda de energia renovável que discutimos aqui, toda indústria de base poderia estar recebendo investimentos pesados para ser uma indústria verde: o aço, o alumínio, o cimento, a cerâmica, o vidro, a química. Para isso, eu preciso atrair investimento e fazer o brasileiro investir, né?”
Por isso, ele diz que a questão da despesa pública precisa ser enfrentada de forma rápida por todo mundo, “senão a gente vai perder mais uma janela”. Ele defende um alinhamento entre os poderes para que o país avance. “Não é por todo peso no executivo. É uma convergência com a compreensão de quem gasta no país”.
Castro criticou o aumento do número de deputados aprovado pela Câmara e disse que “é preciso pensar no país e não na eleição”. Apesar de serem temas impopulares, especialmente para serem discutidos um ano antes da disputa presidencial, ele a avalia que o Brasil precisa discutir as reformas administrativa e da Previdência, revisar programas sociais e o orçamento impositivo, que obriga o governo a executar emendas parlamentares e tira poder do Executivo na aplicação dos recursos públicos. “Precisamos discutir essa essa obrigação de gastos. É preciso dar liberdade ao governo para a contingenciar gastos. Precisamos de vontade de realmente colocar o Brasil na frente da das corporações ou de nós mesmos”.